"Tirem-me os Deuses"
Tirem-me os deuses
Em seu arbítrio
Superior e urdido às escondidas
O Amor, glória e riqueza.
Tirem, mas deixem-me,
Deixem-me apenas
A consciência lúcida e solene
Das coisas e dos seres.
Pouco me importa
Amor ou glória,
A riqueza é um metal, a glória é um eco
E o amor uma sombra.
Mas a concisa
Atenção dada
Às formas e às maneiras dos objectos
Tem abrigo seguro.
Seus fundamentos
São todo o mundo,
Seu amor é o plácido Universo,
Sua riqueza a vida.
A sua glória
É a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objectos.
O resto passa,
E teme a morte.
Só nada teme ou sofre a visão clara
E inútil do Universo.
Essa a si basta,
Nada deseja
Salvo o orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver.
Ricardo Reis
Tirem-me os deuses
Em seu arbítrio
Superior e urdido às escondidas
O Amor, glória e riqueza.
Tirem, mas deixem-me,
Deixem-me apenas
A consciência lúcida e solene
Das coisas e dos seres.
Pouco me importa
Amor ou glória,
A riqueza é um metal, a glória é um eco
E o amor uma sombra.
Mas a concisa
Atenção dada
Às formas e às maneiras dos objectos
Tem abrigo seguro.
Seus fundamentos
São todo o mundo,
Seu amor é o plácido Universo,
Sua riqueza a vida.
A sua glória
É a suprema
Certeza da solene e clara posse
Das formas dos objectos.
O resto passa,
E teme a morte.
Só nada teme ou sofre a visão clara
E inútil do Universo.
Essa a si basta,
Nada deseja
Salvo o orgulho de ver sempre claro
Até deixar de ver.
Ricardo Reis
Que nunca se deixe a mente dominar por verdades meta-físicas, incrivelmente surreais. A verdade das coisas não reside nelas. Depois só nos resta, no auge da inexistência, a perene desilusão da sua irrealidade.
Interpreto Deuses não como instância religiosa, mas sim no sentido plural do termo.
Muitos de nós, durante a vida, endeusamos as pessoas e as suas verdades. Abdicamos dos nossos sentidos, das nossas verdades e, sobretudo, da nossa maneira singular de as perceber. Ousamos petrificar a nossa especificidade para que se inicie o embalsamento dos nossos heróis. A evolução faz pôr, dispor, disfarçar, encapotar, prensar, usar e abusar das liberdades, garantias e direitos das pessoas.
Os sistemas aproveitam-se disto.
Fantoches, a magote, desfilam diariamente nas ruas, na televisão, na rádio, na vida. Pergunto-me, singelamente, onde pára o espírito de ser pessoa, a "certeza da solene e clara posse"?
Respostas não as encontro. Provavelmente o medo, de não saber sê-lo, atormenta o meu modo-de-ser.
Luís Gonçalves Ferreira
A verdade é um conceito muito compexo. Porque a minha verdade pode não ser a tua verdade e vice versa. Porque "o facto de não ser reconheciada, não faz com que a verdade não seja verdadeira". Porque a verdade está na razaão de cada um, e por isso não existe verdade pura e dura, existem verdades...
ResponderEliminarbeijinho!
pode ser um pensamento/ponto de vista interessante mas em pouco vai ao encontro daquilo que Reis inaugura (consulte os aspetos temáticos/"biografia" do autor)
ResponderEliminarEste blogue não é, nem prometeu ser, uma aula de literatura nem um ensaio. Obrigado pelo comentário
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