Os gregos inventaram a democracia e os romanos um sistema burocrático de império governável à distância. Os medievos revolucionaram o aproveitamento da energia hidráulica, criaram o género no vestuário e o relógio. Os modernos fundearam a civilidade e a privatização. Os contemporâneos deram ao mundo a máquina a vapor, a lâmpada, a medicina moderna e o computador. O pós-modernismo (ou lá o tempo em que vivemos) democratizou a internet e o acesso aos céus. O tempo é elástico, mas este progresso que nos parece constante talvez não o seja. Tenho a certeza que se um grego antigo conseguisse ver Santorini dos céus ter-se-ia louvado por Zeus; talvez tivesse aproveitado a vantagem para fazer uma ditadura ou ganhar uma guerra; ou, por agradecimento, houvesse mandado erguer um templo. O acesso ao novo, a procura incansável pela validação e distinção em relação ao outro garantiram o nosso progresso; não necessariamente positivo; não necessariamente constante; as novas tecnologias tornam tudo mais nítido e rápido. A sociedade do instantâneo e do volátil; o eu da sedução num outro do desejo. Serão os pássaros de metal cultura material de tudo isto? Certo é que o azul deste mar parece bem mais longo e perfeito do que as pernas de um qualquer colosso rodiano às portas da Nova Iorque.
Luís Gonçalves Ferreira, 24 de maio de 2018
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