Chega o silêncio e a porta fecha devagarinho como um potro inocente. Ainda sei aquelas mãos escorregarem no corrimão e as pernas pequeninas perdidas pelas escadas. O trabalho sobe aos braços e a chave roda na solidão de sempre. É junho e uma cicatriz tremenda está na linha do horizonte; como se fosse um raio de luz acordado na manhã errada. Era provavelmente terça-feira e a máquina que descobre monstros rodava, rodava e rodava e fazia um barulho tremendo e assustador. Pequenino, cheio de medo, rezava; para que as raízes estivessem quietas no fundo da barriga. Bastariam uns dias para que a vida entrasse num escorrega tremendo, cheio de curvas, para nunca mais se endireitar; como crianças gritando num tubo amarelo. A costela nunca mais foi a mesma e o azul, minha cor favorita, fez-se um pouco mais cinzento. O relógio bate certo e os gritos no corredor apelam à injustiça de a vida não ser aquilo que se quer que seja. Morremos da nossa bem-aventurança e já não estou da parte de fora das contas que outrora fiz.
Luís Gonçalves Ferreira, 1 de junho de 2018
O cinzento irá desvanecer e o azul recuperá a sua tonalidade original.
ResponderEliminarAzul é o céu e o mar. Azul é traquilidade.