E continuei a morrer. Morri por culpa, minha tão grande culpa. Morri por pensamentos, actos e omissões. Morri pelos anjos, pela Maria e por José. Morri pelos sexos através do sexo, por entre as almas, pelo corpo e pela carne. Morri de joelhos, morri em pé e morri em altares, com a cara cuspida de ódio ou eterna (des)graça. Morri com classe e sem ela e morri logo a seguir por já ter querido morrer. Morri por rezas, sem nunca me ter arrependido do perdão. Morri de amor como morrerei sempre por amor. Do exagerado, do extra-sensitivo, daquele de quem devota a sua vida à felicidade dos outros. Morri e renasci. Não ao terceiro, nem ao quarto, nem tão-pouco por entre os dias das horas compradas. Morri e renasci, pela eternidade, na solidão da morte. Esse de tão-grande acto solitário. Estar só não é estar sozinho. E isso é vida, aquela imaculada virgem que dorme no leito do final, com a morte. Luís Gonçalves Ferreira