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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2011

Campos cardos. Campos orquídeos.

Hoje ficou dia até mais tarde, porque anoiteceu mais tarde. Constatação vã. A dificuldade de convivência entre a treva e a claridade está resolvida pelo relógio de Deus: ora dá palco a um, ora retira-o a outro, por estações. Agora o dia começa a vencer a treva. O bem começa a destruir o mal: como na vida. As coisas acontecem em partes, como por estações. Existem pessoas que são países tropicais, outros existem na nacionalidade nórdica de si. Acontecem Açores dentro de mim: sinto, entre os dedos, as quatro estações do ano. A oscilação bipolar entre a dúvida de estar no caminho certo e a certeza concreta que a felicidade se constrói do presente. A sobrevivência do passado sobre o futuro é errada. O nosso relógio não pode parar, porque o sol caminhará para se deixar vencer pela lua. A terra, inclinada, está doentemente no caminho certo: o do quotidiano, da pendulação entre os pólos. Quero tomar o rumo do Verão e deixar-me ir no teu baloiço. Vamos viver a Primavera e preparar os corações

Respirar*

Aos olhares estranhos, sigo a vida conforme o roteiro: sou quase normal por fora, para ninguém desconfiar. Mas por dentro eu deliro e questiono. Não quero uma vida pequena, um amor pequeno, uma alegria que caiba dentro da bolsa. Eu quero mais que isso. Quero o que não vejo. Quero o que não entendo. Quero muito e este muito quero sem fim. Quero continuar a aprender a dançar à chuva e a não ficar à espera que a tempestade se vá. Amor sem dor não sabe a romance, mas pouso a paixão que me rói e aí vejo algo novo nascer, sem prazo e idade de acabar. Escondo-o a custo, pois guardo-o só para os especiais – transborda-me os sentidos. Escorro sangue em lágrimas, transpiro vida, fervor e euforia. Inspiro, expiro. Inspiro, expiro. Sonho, adormeço. Sonho, e já não sei se estarei a sonhar acordada de novo. Não cresci para viver mais ou menos, nasci com dois maravilhosos pares de asas e vou onde eu me levar. Por isso, não me venham com superficialidades, pois nada raso me satisfaz. D

Poeta

Confesso-te, nobre poeta que levitas dentro de mim, que não sei como te dirigir a palavra. A inconstância do corpo, da alma, do coração feito de pedra... Poeta, nobre ser, perdoa-me o erro de não escrever em teu nome. Poeta, belo ser, ajoelho-me perante ti, agora. O perdão brota-me de dentro para fora como quem chama pela inspiração. Poeta, incrível e estupendo ser, não se perdoo por te ter deixado partir, sinceramente. Eras a mágica instância de dentro de mim. Prometo, poeta que desapareceu, uma ressurreição poética, quase bíblica. É a tristeza, melancolia, saudade, que te irá restaurar dentro de mim. Poeta, acrónimo de mim, sinónimo do meu olhar, regressas-me às linhas pela mão errada... Não te consigo recusar entrada. Fecho os olhos e a tua adrelina quer voltar a mim. Luís Gonçalves Ferreira