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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2013

Promessas

Eu gosto de brincar com a poesia e transformá-la em prosa. Reentregá-la. Desmontá-la. Reinterpretá-la. Oferecer aquilo que nem é meu. Uma transferência nula, sem efeitos. Um mar de oceanos que não se esgota. Amar as letras é como amar uma pessoa, como amor infinito. É juramentar o que nem juramento precisa. É entregar o que se tem e o que não se tem. É prometer o que não se controla, controlando apenas e só o desejo de o fazer. Eu amo poesia. E amo música com poesia. E amo prosa com poesia. E amo as letras. E amo-os, de forma emocionalmente infinita. E encravo-me, na proporção da entrega, colocando-me em riste, com a cabeça prostrada numa Inquisição. Nunca perco o desejo nem o movimento transcendentalizado de o continuar a fazer. Não abandono esta idiotia utópica. Nem a tesão deste orgasmo mental. E, até então, não me abandonarei nem deixarei de me continuar a desejar. E o primeiro sexo é o que fazemos connosco próprios. E será o último, antes de entregarmos o nosso corpo a um limbo q

Não me apetece título

Todas as pessoas têm um pouco de privilégio em perseguir aquilo que lhes faz mal. Como se o vício da sua loucura fosse a loucura em si mesma, sem adjacências, nem intermediários, nem tão-pouco actores secundários que um dia roubariam a cena e subiriam de posto. Inatamente nos colamos ao erro, por mais surdas, estridentes ou caladas que sejam as vozes que nos avisam. Por mais prudentes que sejam os deuses que nos auxiliam... Por mais sensatas que sejam as ombreiras que nos tombam o pecado, ou o túmulo ou a decadência em peso morto do corpo moribundo em que aquela carência nos transformara. Morreremos sem perceber o porquê de tanto adorarmos o mal-trato? Acabaremos com isto na quarta ou na décima adolescência? Na verdade, existe justiça superior, do karma , ou simplesmente temos que nos deixar de preocupar com isso? Viver assusta-me enquanto paira na incerteza. E não há cartas nem deuses nem búzios nem ciência nem presidentes nem nada de humano que deite areia neste vazio. Viver assus

Escrever

Ser escritor é achar que tudo se resolve, transmite, dissolve ou tão-só alivia através das palavras. É acreditar na poesia do próprio silêncio e no barulho de um manuscrito. Ser escritor (ou gostar de escrever - ou achar somente que se o faz) é viver constantemente na dádiva, na partilha, no egoísmo altruísta de dar e receber. Um receptor da satisfação das palavras que já não são só nossas. É como viver uma vida inteira em função de algo exterior, constantemente convencidos que nos encontramos através disso.  Escrever é um egoísmo bonito: único, aliás. Não há satisfação como esta. E tenho a certeza poética disso quando só consigo adormecer ou trabalhar ou sonhar depois de escrever.  Eu gosto de escrever por mim, e para ser lido, esperando que alguém se identifique com isso. Eu escrevo para pessoas, para ser escutado, porque amo pessoas e me devoto sem vergonha a elas. Caso contrário, calava-me. Mas... É tão vazio achar que não podemos acrescentar nada a ninguém. É existência, apen

Patologias

- Tenho aqui uma dor, por entre as costelas e o pulmão, doutor. - Identifico ansiedade, caro. E mal ruim.  - Devo tomar algo?, perguntou a paciente. O médico, pronto, exclamou: - Tempo. Isso que tem, passa com tempo. Mais novo e achei que se comprava. Enganei-me. Obstinei-me à procura de respostas, não as encontrei. Tentei automedicar-me através das hetero-drogas que fui achando. Sofri mais. O conselho que tenho para lhe dar é que saiba esperar. Eu não morri e quando dei por mim já tinha esperado tudo o que havia para esperar. A novidade é: hei-de esperar a vida inteira. É isso o tempo: uma ansiedade por algo que realmente não existe. O enésimo antes deste é passado, por isso de que adianta correr atrás do presente, ou do futuro, ou do tempo? É preciso saber aceitar. Aceitar e acreditar. Nas pessoas, no tempo, no que não existe. E isso é o mais complexo, especialmente quando queremos o que em nada depende de nós. Agora durma, meu caro. O tempo passa a correr e nem boa noite ao