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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2013

Sobre sei lá bem o quê

Chegamos ao cais, olhamos o placard informativo: contavam uns minutos. Não sabíamos quando nos veríamos a próxima vez. E isso era cansativo. Talvez nunca mais. Talvez mais nenhuma hora seria marcada no relógio, para nós. Eram horas que não tenho memória. Levantei-te a mão, despedi-me com um beijo, no teu coração. Partiste. Passaram-se tempos e ia à estação, dia após dia, recuperar o cheiro que as paredes me faziam recordar. Era como se te voltasse a ver de todas as vezes que não te via. Hoje sinto que é finalmente o momento de despedida. E tudo, absolutamente tudo, foi como tinha de ter sido. E o destino, esse Carnaval sem data, pregou-nos uma partida. Teriam acabado os ingressos? Pensei que sim, durante as perguntas esperançosas que fazia a mim mesmo. Hoje percebo que, durante todo este tempo, estive virado para a linha errada. Milhares de maravilhas poder-me-ão ter cruzado as costas. Tomei a decisão de não mais voltar, mas confesso que ainda dói saber que a estação existe. E prova

Rescaldo

Lembro-me de ter pegado, pelas costas, na pouca casa que tinha e fugido para o conforto mais próximo que conseguia criar. De dispor as coisas da forma mais arrumada que conseguia, mesmo sem fotos nem quadros para pendurar. Imaginava se irias gostar da nova vida que estava a começar a construir: Se te irias orgulhar; Se quererias fazer igual; Se poderia ser uma inspiração. Durante meses, sonhei. Acordado e a dormir. Acho que só sonhava: Que me entrasses pela porta adentro e dissesses "mostra-me o nosso quarto". Nunca aconteceu. Foram longas as horas, os dias, os meses, e é tão breve que fará um ano. (Que lapso insano de tempo.) Veio o primeiro, o segundo, ficaram cá amigos. Vi-me obrigado a quebrar a promessa e a dissolver tal desejo. Vi-me escravo em deixar-te ir, mesmo contra a minha vontade. Vi-te fugir e aproximar. E vi-te, mais das vezes, da fechadura da porta. Eu achava que era uma janela. Sonhei contigo. Sonhei connosco. Com filhos, e casa, e famílias reunidas. I

Matrioska: José e Pilar

Durante a vida coleccionamos "amores-exemplo". Pilares de força, determinação, companheirismo, compromisso, eternidade. De uma singularidade única, num profundo amor singelo. Os "amor-exemplo" são perigosos, porque nos alucinam, críticos dirão que nos desfocam da realidade física das coisas, mas também esses gostam de sonhar. É o sonho que faz do amor uma transversalidade.  José e Pilar são, sem margem para grandes dúvidas, um "amor-exemplo". Como os de filme, ou de novela, ou de livro. São como um livro dentro de uma vida cheia de livros dentro. Uma matrioska de amor. José e Pilar fazem cheirar tudo aquilo que de mais bonito há: uma força que une, por entre as margens da diferença que, por preguiça, qualquer um parece querer que um dia se poderá afastar. Afinal não é Deus que une para a eternidade, é o Homem. José e Pilar, são um "amor-exemplo". Estão agora entregues à eternidade, mesmo com que em universos paralelos. O que é o amor, afinal

Da hora do Adeus

Sei de cor as tuas rugas, os trejeitos do teu sorriso, o cheiro da tua timidez. Sei da rigidez da tua pele, cheia de talos e doridos do castigo mundano que lhe dás. Sei dos teus olhos, da cor do teu cabelo, do encaixe perfeito do meu corpo no teu. Sei de tudo isso e saber disso faz-me acrescentar muito pouco de construtivo aquilo que já conheço.  Saber-te de cor - principalmente dos teus desapegos - só me deixa mágoa e tristeza, por saber do significado da repetição. Isso tira-te encanto, sabes. Por que outros virão a ouvir as tuas músicas (e a sentirem-se nostálgicos em cada cruzamento casual), a descobrir os teus traumas, a acompanhar-te nas tuas guerras e a querer fazer das suas capas o teu casulo. Outros virão a dar-te mimo, atenção, a dormir contigo e a acordar preocupados se o casulo continua são.  Dou-te poemas. Como este. E deste-me cardos, ódio, e nenhuma dignidade para eu respeitar isto que sinto. É hora do Adeus. Do barco, da casa, das fotografias, dos beijos e dos dese

Cortina

Grito surdo num túnel de vento. Angústia. Pânico. Nojo. Fobia do desprezo, do desengano, do desapego. Arrependimento. Interesse. Amor. É um fogo desértico num corpo gelado de revolta, raiva. Talvez seja tão-só repulsa num corpo prostituído por um vagabundo. É um instante que nem gritar livremente me permite. Estou preso numa câmara com oxigénio milimetricamente controlada. É um crime de guerra numa operação de gosto e desengano. É como um vómito entalado no meio do choro. É uma represa prestes a abrir comportas.  Não há preces que valham nem santos que acudam e há muito que promessas deixaram de fazer sentido. É uma prisão de cordas, tolas cortinas. O pano não cai. A dor não passa. O barco não acalma. O mar nem abranda.  Casca de laranja que flutua pelo mar. Há um grito mudo que não sai.  Fumaça. Repulsa.  Desengano. Cortina de Raiva. Luís Gonçalves Ferreira

Sobre a derrota

Questionaria o porquê da auto-destruição, do desespero, daquele caminho errante. É cedo de mais para acordar e todos precisam do seu tempo. Do seu próprio tempo. Por egoísmo mimado, já o tentei controlar. Sei que não vale a pena. Dói. Continua a doer muito quando me cruzo com qualquer das recordações que se acumularam nas paredes, nos quartos, nos locais. Nem longe me abandonas. Nem longe me desapego. Dói um bocado, sabes. Aqui entre as costelas, ao lado do ódio acumulado e da mágoa que o grito surda. E do nojo.  Magoa ver a perdição e não poder fazer nada por isso. E isto é um ensinamento. Especialmente para mim, que sempre achei ser capaz de fazer de todas as vidas lugares de maior beleza. Cortaram-nos as asas. E sinto-me constantemente a tomar consciência de como é duro já não as ter. Luís Gonçalves Ferreira

O amor é confuso

“Sinto-me vazio, talvez sono. É, estou com sono, fome, sem vontade de muita coisa, aparentemente cansado. Disseram que talvez eu esteja com saudade de algo, de ti, talvez, mas sei lá. Se tu foste, ou se fomos cada um para um lado, ou cada um tomou um rumo diferente nos planos da vida de difícil compreensão. Tu para a direita, e eu para esquerda, e os nossos caminhos não se cruzaram mais. Tudo bem, se era para ser assim, que seja. Sempre vai haver mesmo o grande cruzamento da vida, e que cada um segue seu caminho deixando sempre alguém para trás, até mesmo se for em uma amizade, ou um completo desconhecido. Sinto a tua falta mesmo, e então? Nada vai mudar. No caminho da vida, eu fiquei na curva, e tu seguiste directo.” O Amor é confuso, Mark Hr.