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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2011

Solto

Acho que eram dois dias quando te contei pela última vez.  Acho que éramos um só quando te sonhei pela última vez.  Acho que me restam perguntas por responder e um conjunto inacreditável de respostas sem terem tido direito a pergunta ou à curiosidade da alma.  A vida é uma constante de mortes e renascimentos, personificados no doloroso final e no glorioso início que todos conhecemos. Mas a morte e o nascimento não moram só nas primárias e finais instâncias que o céu e o inferno nos fazem acreditar. Renascemos vezes sem contas e ressuscitamos como fazemos morrer presenças. E não existe nada mais assustador que essa instabilidade: está tudo arrumado em gavetas e não sabemos se existe purgatório a seguir que baste aos nossos medos. Isso é o bem e o mal, o certo e o incerto, o tido como o achado.  Apetecem-me frases soltas.  Soltam-se pensamentos e não se agarram palavras. E só precisava de escrever isto. Luís Gonçalves Ferreira

Um texto de Sete de Maio de 2011

A blusa apertou-lhe os seios, num suspiro intemporal. Uma lágrima do corpo percorreu-lhe o peito sem saber onde iria parar. Louca, rolante, como a vagabunda alma que estava ali, suada, louca de um prazer passado, percorrido por outro corpo. A deslocação de si para o corpo de alguém. A sinestesia dos corpos. O belo erotismo dos banquetes de Platão. A erótica pornografia moderna, que se condensa nas bocas e nas mãos dos afáveis corpos que se auto-mutilam. Aquela mulher, demente de interessante, perdeu-se no seu próprio corpo. No calor de si. Não sabe onde está ou como foi ali parar. Não sabe se dormiu com um homem ou uma mulher. Não sabe se dormiu, tão-pouco. Não sabe. E vai ser feliz enquanto assim continuar. Rolou o espírito caminho acima, nas escadas da banal entrada do seu apartamento. Resvalou a mala no canto mais próximo e deixou os sapatos pelo caminho. Parecia um quadro de um filme qualquer, mas não. É a realidade. A realidade igual à ficcional existência de uma novela torta, sin
Naquele instante, Pedro disse que sim e as cortinas desceram. Não hesitou em revelar-se e despojar-se de si. Pensavam todos que era óbvio, estampado de mais para ser mentira. E de facto não o era. Mas a verdade vinda directamente da boca dos intermediários é sempre uma maior verdade: é como um garante a si mesma. Pedro havia pensado horas a fio sobre aquela verdade. Enganara-se, praticamente, ao pensar que era mentira e que podia expulsar o que se mostrava em si. Penitenciara-se, confessou à mesa, mas de nada adiantou. Quanto mais crescia mais aumentava a gravitação daquela certeza. Confessar-se é como dar um presente a quem recebe. E é essa a única luz de se ser diferente: a novidade é cativante. Luís Gonçalves Ferreira

Facto

Vou escrever, sim vou escrever. Tenho simplesmente saudade de o fazer e, sem ser condicionado, tudo dizer. Quero-te, desejo-te, mas sei que te estou a perder. E perder aquilo que nunca se teve é talvez o maior destilar solitário de nós mesmos. Não é a primeira, nem a segunda nem tão-pouco a terceira vez. E tudo seria mais fácil se não fosse verdade. Luís Gonçalves Ferreira