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Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2014

À Francisca

A pequena Francisca tem pouco mais de dois meses, mas fala por uma vida inteira: chegou sem pedir a ninguém, trouxe alegria e um espírito puro de inocência. Olho para ela e lembro-me como é maravilhosa a existência humana e como é gratificante estar aqui, neste momento. Os olhos pequeninos, as mãos que não agarram nada, e um sorriso que conquista o mundo. Nada é pensado, ou intelectualizado, simplesmente congratula, da forma mais pura de quem não sabe nomes, nem pré-conceitos, mesmo dos que amam uma existência tão minúscula, mas tão poderosa. Nunca tinha acompanhado um crescimento humano de perto como tenho acompanhado o da Francisca. Naturalmente por que agora a minha consciência se faz desperta a um conjunto de circunstâncias novas, e quantifica os pormenores de uma outra forma. É produto do próprio crescimento: do meu, através dela. E dela através daqueles que a observam. Os laços que criamos ao longo da vida definem-nos: ela já é nossa e nós dela. Os bebés ridicularizam o

Guião aberto

Era perto das 11 e o relógio dizia pelo final da aula. Negociei, junto da professora, os pormenores de uma reposição. Dei-me ao caminho para casa. Ponderei, no entretanto, estudar na biblioteca ou até na livraria do centro da cidade. Fiquei-me pela última opção: a da preguiça, como sempre. Chave que roda o automóvel, automóvel que se envolve com a estrada, caminho que termina aqui. Aqui - o local onde me encontro, especialmente quando estou sozinho, por onde me partilhei contigo.  - "Tenho que comprar pão", pensei. "Mas provavelmente não tenho dinheiro. Faço-o depois", continuei.  As botas que tinha apertavam-me (são novas e não se encaixaram ao pé). Descalcei-as, encostando-as a um canto, adiei o lanche da manhã mais uns minutos. Actualizei-me nas redes sociais, vi os e-mails, fitei os apontamentos do exame de quinta. Desviei o olhar e procrastinei. Até a ida ao pão. Mais uns minutos... Lembrei-me: "Tenho uma multa para pagar, junto da fatura atrasada da

Barreiras invisíveis

Procurei por toda a literatura que me define ao tentar encontrar "a" frase para este preciso momento. Falhou Pessoa e até Saramago. Kafka não me acrescenta nada e Miguel Esteves Cardoso está mudo. Inês Pedrosa esgotou-se em nenhum aconselhamento. Estou perdido e fazes-me falta. Parti agora para a música: Antony & The Johnsons tem a sua sempiterna Hope There's Someone - de tanto encaixar não serve mais (ferida que roça em si mesma). Tenho uma fenda no coração, entretanto. Ela não fecha nem dá segurança de poder curar-se. Segui agora em frente e visito todas as músicas que já me emocionaram. Espera, afinal, ainda existe uma que serve sempre tudo nos últimos tempos! Não... o buraco continua por se emendar. Não há salvação. Resgato-me agora aos pensamentos: às verdades universais que contei a mim mesmo para fugir de todas as fossas em mim abertas. A céu aberto. Fiquei a céu aberto. Morada oculta, escoltada, acorrentada. Magoada. Das pseudo-psicologias do sentir, das