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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2011
Fazem os tempos em que me liguei ao Facebook, por energia pessoal, influência de outros, mas a eterna procura pessoal do que é novo. As potencialidades da nova rede social, que abarca mais de 700 milhões de utilizadores em todo o mundo, são enormes. Rede de contactos profissionais ou pessoais, plataforma de emprego e conhecimento, interacção de forma de estar, pensamento ou crenças. É uma second life da própria existência real, com os dramas, ficções e expectativas que na realidade existem. É o "livro das caras", das outras existências, e de uma segunda vida que se desenvolve. O problema acontece quando a segunda vida se confunde com a primeira e elas se condicionam mutuamente. Fazes da segunda vida uma exposição enferma e errada de ti, e crias imagens e sementes torpes da tua face presencial. A ilusão do conhecimento pessoal e do encantamento do corpo perde-se nas análises que fazes, sozinho, dos perfis, das fotos, das trocas de comentários. As pessoas dantes conheciam-se

Eterno sonho

Eterno sonho, acho que ainda não cresci o suficiente para perceber tudo o que me acontece na vida. Os braços, as pernas, os cabelos, tudo cresceu. São pedaços de histórias em fragmentos. A rugas da alma mostram o que as rugas da pele contam, mas por outras palavras. Na verdade não são palavras, tu sabes. Sonho, reconheço que erro, sempre, ao dar-me em demasiado... ao entregar-me sem sequer pensar receber. Sonho, querido sonho, não sei se escolherei a felicidade ou ela me escolherá a mim, nem sei se ela existe, na verdade. Sonho, irreal memória do futuro, apetece-me segredar-te mundos e fundos, mas não me dás respostas, nem linhas, nem traços, mas o vazio. Não percebo. Juro que não percebo. Como te disse, sonho , não acredito no totalitarismo da ciência, por isso, ao que não percebo, ofereço o tempo e a razão sentimental que ele tem. Sonho, sonho. Sei onde te encontrar, mas não vou invadir o teu espaço.  Fala comigo, antes que acordemos a cidade e tudo vá trabalhar. Luís Gonçalves Ferr

O Sepulcro de Deus

Viveste uma missão e foste erguido ao alto, para mais perto de Deus. No leito da tua própria sina, interrogaste quem prometeste jamais questionar. E logo depois aceitaste o teu futuro e renegaste o que te tentava, enquanto todos dormiam. Penitenciaste os teus traços, suaste sangue e, com os teus dedos, ordenaste a Terra na própria terra, como havias feito, no passado, ao lado do pecado que perdoaste. Ceaste com os teus e cumpriram-se os teus próprios desígnios. Prenderam-te, cuspiram-te, negaram-te, traíram-te. Carregaste um jugo que não era teu, uma mágoa que não era só tua... um pecado que não te manchara, nem uma vez. Aconselhaste: não perdoes sete, mas setenta vezes sete . Ninguém te perdoou, porque nada havia a perdoar, mas limparam-te o rosto, deram-te de beber, carpiram por ti. Do alto do mal que tentara possuir as veias, foste soberano no bem que sempre proclamaste. Morreste entre o bem que prometeste salva e o mal que a trovoada, o demónio e o corvo consumiram numa bicada. Hoj

Baloiço

Rodeado de medo , chegaste, de mansinho, como quem acolhe o tempo na palma das mãos. Sopraste-me rosas, entre ventos... Tudo me fazia lembrar os tempos de menino em que vivia tudo entre as palmilhas dos teus cabelos. Eram os passos da alma, de graça, que me chegavam de tempos a tempos. Ou melhor, através de gente. Reacções físicas e metafísicas iguais. Pressões iguais. Relógios iguais. Era precisamente o tempo que me igualava tudo a ti, pesadamente. Era precisamente o amor pelo tempo que não te queria deixar ir, neste alvores pesados da memória. Não, não é isso a que me quero dedicar neste momento. Não, não é isto que parece arrependimento. Não é a isto - que sabe a um qualquer sentimento negativo, vagamente instalado nas linhas que me preenchem o espaço... o tempo. Partiste, de mansinho , outra vez, para amanhã haver um regresso. Nenhum será tão cândido, puro e autêntico como os destinos que cruzamos, lá longe, na aranha do tempo. Nos sonhos, que me acalentam a noite e as pontas dos d

Despedida

É quase terça-feira e eu consigo resistir sem ti. São três dias... Quase quatro. És como uma droga, ou uma dependência qualquer. Cada minuto, cada segundo... Destilam-me as horas, o tempo. Destila-me a vontade louca de te falar e de abrir a janela única que existe entre nós. No momento em que o faço, paro. Penso no que existe de diferente entre nós, o que não te permitiu agarrar-me e agrafar-me a tempo. Fui-me para longe, gradualmente, ao contrário da força que nos uniu e da rapidez que me precipitou nos teus beijos.  Venho, por este meio parco, dizer-te que penso em ti todos os dias, a todas as horas. Lembro-me do teu cheiro, do teu sorriso, da tua dádiva, mas também recordo a desilusão, a expulsão, o afastamento. Lembro-me de te ter tido nos braços, nos lábios, e na imensidão de corpo que foi teu, por inteiro. Recordo-te em cada linha e não acredito que acabou. Este sentimento tolo, dependente, consome-me ardentemente, mas agora longe... Não sentes a chama que já te queimava, e que a

Falar em silêncio

Faz silêncio, alma. Faz silêncio. Faz silêncio e ouve-te a ti mesma, nesta surdina louca. Faz silêncio, faz. Não mintas. Segue em frente, alma. Descola-te dos vícios. Sai-te do eixo confortável em que o teu barulho te permite a estar. Alma, reflexo do corpo, almofada das setas da consciência, deixa-te levar em ti. Fala e faz silêncio. Fala contigo. Alma, nobre ser sem ser, fala. Em silêncio. É isso que a alma faz ao corpo: fala-lhe em silêncio e eleva-o a um outro patamar existencial. Luís Gonçalves Ferreira

Doença dos olhos

Quem se apaixona está profundamente doente dos olhos , como diria o poeta. Vê tudo com o coração. Apaixona-se pelo coração. Desilude-se com o coração. O degradé do amor é isso mesmo: uma imensidão de cores, em caminhos, que vão (quase) todas dar ao lado oposto, mas vizinho, porque tudo se passa em círculos. A fronteira entre o amor profundo e a repulsa é ténue, saberá quem já se apaixonou. O mesmo acontece com aqueles que querem guardar o melhor dos outros em si e que lhe prometem curar a "doença dos olhos" mantendo o coração a ver. O coração e o olhos vêem, tantas vezes, coisas incompatíveis entre si, como dois direitos que chocam num qualquer exemplo de Direito. Quando paramos para dirimir a questão e dar palco ora uns ora o palco aos outros, verificamos que o palco é singular, canta a uma voz, e não é mais o do que uma surdina repercussão do mesmo em bocas diferentes. Amar pressupõe dádiva, verdade e confiança. Coisas que são cegas, mais das vezes. No mundo real, aquele do

Conversa casual:

Acabas por ser corruptível em dois sentidos. E tudo na vida é assim: Se não morres da doença acabas por morrer da cura; Se não morres por amor, a morte mata-te o amor pela ausência do corpo. Ou seja, desse ponto, nunca és realmente feliz*. Nunca. Ou és, na fio da navalha. Estás em cima de uma linha, de um trapézio. É por isso que a felicidade plena não existe: o abismo está debaixo de ti. Tropeças e cais. E a vida são sucessivas linhas. Sucessivos trapézios. Sucessivos equilibrios. É por isso que o medo é tão humano como a tua perna ou o teu braço. O teu corpo está sujeito ao medo de se perder. A tua mente sujeita ao medo de esquecer. O teu coração sujeito ao medo de não bater jamais. Inúmeras variáveis sujeitas à queda.* E quando tens alguma coisa continuas a ter medo. De perder. De cair. De sair do trapézio. O mais irónico: quem nao opta por viver no trapézio não vive. Sobrevive. Luís Gonçalves Ferreira *por Luís Monteiro

Ensinamentos

Passei vezes sem conta junto à porta onde enfermavas. Corri, vezes sem conta, na oposta direcção dos cuidados prestados por alguém à tua dor. Dói recordar esses passos. Não prezei a nossa história. Não te prezei devidamente. É o maior remorso da minha vida aquele que me ensinaste no leito da tua morte. A partir daí jamais dei menos que "tudo" às pessoas. E isso tem um contra-peso, como tudo na vida: não receber menos que "tudo" causa desilusão. É talvez o maior egoísmo de se viver aprisionado em valores: não sabermos descolar-nos do molde. A partir daí magoei-me como nunca tinha acontecido. Em teu respeito, mesmo que volte a sofrer, fá-lo-ei até encontrar alguém tão humanamente irrepreensível como tu o foste...  Luís Gonçalves Ferreira

Escrita em círculos

Sinceramente, não sei o porquê de escrever. Não é pela mera qualidade das palavras nem tão-só pela simples necessidade de entendimento que às comunicações humanas subjaz. Disso eu sei. Não venho aqui, porque quero só comunicar as coisas do dia-a-dia (aliás, nem o tenho feito). Não sei onde pára o suor do meu rosto que um dia glorifiquei aqui. Não sei onde está a autenticidade forçada de antes, mas conheço-me melhor agora. Sei coisas e desconheço milhões de outras acima delas. Desconheço esta força química, visceral, meta-física que me traz às linhas públicas da espingarda das letras. Confesso-vos que me acontece quando estou pior. Confesso-vos que sei disso e não queria que isso acontecesse. Poderá o leitor pensar que o queixume é vão e as palavras dos outros servem só para reconfortar. Não é isso, leitor. Não é isso. É uma comunicação de mim para mim, quero explicar-lhe. Como se fosse um sussurro no próprio ego, na própria alma, percebe? Outros amantes da escrita irão entender isto, e