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Despedida

É quase terça-feira e eu consigo resistir sem ti. São três dias... Quase quatro. És como uma droga, ou uma dependência qualquer. Cada minuto, cada segundo... Destilam-me as horas, o tempo. Destila-me a vontade louca de te falar e de abrir a janela única que existe entre nós. No momento em que o faço, paro. Penso no que existe de diferente entre nós, o que não te permitiu agarrar-me e agrafar-me a tempo. Fui-me para longe, gradualmente, ao contrário da força que nos uniu e da rapidez que me precipitou nos teus beijos. Venho, por este meio parco, dizer-te que penso em ti todos os dias, a todas as horas. Lembro-me do teu cheiro, do teu sorriso, da tua dádiva, mas também recordo a desilusão, a expulsão, o afastamento. Lembro-me de te ter tido nos braços, nos lábios, e na imensidão de corpo que foi teu, por inteiro. Recordo-te em cada linha e não acredito que acabou. Este sentimento tolo, dependente, consome-me ardentemente, mas agora longe... Não sentes a chama que já te queimava, e que ainda arde dentro de mim. Antes que saíssemos verdadeiramente feridos, a fonte de calor afastou-se. Sou eu, sozinho, que hoje ilumino esta ilusão de nós. Não sei quando vai acabar. Não sei quando te deixarei de amar... Sei que te espero, inocentemente, cheio de incoerência, no local do costume, à mesma hora, mas só pela única janela que deixei aberta para o nosso jardim de Inverno. Tenho saudades tuas. E os sinos batem essas badaladas ao ritmo do meu coração.

Até um dia,
Luís Gonçalves Ferreira

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...