Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2017
Há um par de dias, quando estava a trabalhar no meio da herança que nos deixaste, contou-me um vendedor mais pormenores sobre ti: a inteligência dos negócios misturada com a mãe que sempre foste.  Mãe para nós e para todos aqueles que colheram da tua bondade. Não me lembro do teu cheiro, mas ainda me emociono quando tento encontrar o teu rosto. Hoje já não existe aquela saudade esfomeada que outrora em mim habitou; hoje há calma, avó Júlia. Serena calma como o mar de Inverno. As noites de 20 de janeiro, dia de São Sebastião (padroeiro da casa do bisavô), ainda continuam frias. Noites geladas com aqueles dias quantos os anos cujas duas mãos já não chegam para contar. Ias adorar ver os olhos azuis da Francisca... Passaram doze anos desde que a presença mais renovadora das nossas vidas partiu, deixando-nos o império da sua memória. Entretanto, remendamo-nos no melhor que sabemos ser em recordação do profundo que há de si entre nós. Luís Gonçalves Ferreira 

Estado da História: desafios e observações

Ao historiador contemporâneo é lhe pedido, antes de mais, que produza observação histórica de forma problematizada e questionadora sempre baseada em documentação coesa, numa metodologia arreigada ao possível (quanto ao tempo e aos objetivos), assente em questões e hipóteses. O jovem historiador ou investigador que hoje se tente introduzir aos meandros do conhecimento humano, pela lente da observação do passado, avança-se num anacronismo inato que, sendo a principal circunstância do seu labor (o olhar é sempre do presente para o passado), é fobia constante da contaminação intelectual do seu trabalho. O historiador sente através dos documentos que observa, pelas pessoas que narra ou pelos pensamentos que desenvolve. Ter medo da contaminação é não aceitar as características da sua profissão; é não se desenvolver num conjunto submerso de ideias, pré-conceitos e conteúdos, desde logo emanados da instituição que o forma, dos pares que o pressionam, dos livros que leu e

Abandono-me à solidão

Debruço-me sobre a tristeza, sendo-me Encontro-nos na estranheza. Lembro saudosamente os outrora corpos fundidos, por Sorrisos desmedidos. Esbarro no olhar à sorte e perco-me no desalento. Um silêncio. Quero e não encontro - Somos e nem existimos. Vida sozinha, Vida só, Vida. Sempre interrogando, sempre duvidando, sempre Sozinho nas alíneas do pensamento. Sina das mãos lidas, Sol de inverno - numa primavera de mil flores. Desculpo-te por seres demorado. Depois de quente, a pele ficou tépida, Frouxa, e agora? Eis-me triste e só, Como sempre sou. Luís Gonçalves Ferreira

A Soares, pela liberdade.

Podemos criticar tudo: o buraco da Fundação, o caciquismo, a dificuldade em deixar o sistema por si montado em paz. Ao contrário de nós, que nos sentamos num sofá e mandamos postas de pescada livremente, Mário Soares lutou contra um monstro: o fascismo. Nunca teve medo, até ao final da vida. O país não lhe deve nada para além do respeito. Respeito por nunca ter tido medo. Numa altura em que somos todos órfãos de sentido crítico, consciência autónoma e pensamento livre, talvez seja essa a mensagem de Mário Soares para o ano novo, pela glória da morte. A democracia só serve enquanto nos servir; agora que morrem, na velhice, os últimos obreiros do Portugal democrata, talvez seja tempo de pensarmos sobre a nossa existência democrática. Apesar de não concordar com a maioria do seu pensamento político e económico, devo a Mário Soares a liberdade de o expressar livremente. A democracia não tem preço, mas Soares teve-o; como todos nós.