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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2013

Morri

E continuei a morrer. Morri por culpa, minha tão grande culpa. Morri por pensamentos, actos e omissões. Morri pelos anjos, pela Maria e por José. Morri pelos sexos através do sexo, por entre as almas, pelo corpo e pela carne. Morri de joelhos, morri em pé e morri em altares, com a cara cuspida de ódio ou eterna (des)graça. Morri com classe e sem ela e morri logo a seguir por já ter querido morrer. Morri por rezas, sem nunca me ter arrependido do perdão. Morri de amor como morrerei sempre por amor. Do exagerado, do extra-sensitivo, daquele de quem devota a sua vida à felicidade dos outros. Morri e renasci. Não ao terceiro, nem ao quarto, nem tão-pouco por entre os dias das horas compradas. Morri e renasci, pela eternidade, na solidão da morte. Esse de tão-grande acto solitário. Estar só não é estar sozinho. E isso é vida, aquela imaculada virgem que dorme no leito do final, com a morte. Luís Gonçalves Ferreira 

Morrer

Morri imensas vezes durante a vida. Morri com despedidas, morri com partidas, morri com regressos e morri com promessas de ingressos. Morri por morte natural, por morte espiritual. Morri por assassinato e por suicídio. Morri por vida como morri por morte. Morri como renasci e não teria renascido se não tivesse outrora já morrido.  Morrer é vida, por tudo isto, como um zero cheio de adrenalina.  Morrer é nascer, por todas as demais valiosas vezes, como uma montanha.  E para termos nascido havemos de ter morrido, nem que não seja para a hipótese de morrermos antes de nascer. Luís Gonçalves Ferreira

Carta de Maria de Magdala para Jesus:

- Um Capítulo para O Evangelho -  De mim se há-de dizer que depois da morte de Jesus me arrependi do que chamavam os meus infames pecados de prostituta e me converti em penitente até ao fim da vida, e isso não é verdade. Subiram-me despida aos altares, coberta unicamente pela cabeleira que me desce até aos joelhos, com os seios murchos e a boca desdentada, e se é certo que os anos acabaram por ressequir a lisa tersura da minha pele, isso só sucedeu porque neste mundo nada pode prevalecer contra o tempo, não porque eu tivesse desprezado e ofendido o mesmo corpo que Jesus desejou e possuiu. Quem aquelas falsidades vier a dizer de mim nada sabe de amor. Deixei de ser prostituta no dia em que Jesus entrou na minha casa trazendo-me a ferida do seu pé para que eu a curasse, mas dessas obras humanas a que chamam pecados de luxúria não teria eu que me arrepender se foi como prostituta que o meu amado me conheceu e, tendo provado o meu corpo e sabido de que vivia, não me virou as costa