Quando compro ou me oferecem um livro, tenho o hábito de lhe escrever o meu nome e o ano. Não existe um sítio específico onde faça questão de o gravar, mas tento interferir o menos possível na estética e na semiótica própria do livro; há, quase sempre, uma hesitação na gestão de espaço disponível (que nem sempre é pacífica). Sinto que não devo contaminar os agradecimentos e escrever na página de rosto parece uma violação do património antropológico que o livro guarda em si mesmo. Restam poucas opções, porque escrever-lhe entre as palavras está completamente fora de questão. Na verdade, as relações de propriedade e, portanto, as relações de poder, implicam sempre cedências e gestão de espaços, de expetativas, mas sobretudo de silêncios. Os silêncios, nos livros, são os espaços brancos e é neles que cabem as (possíveis) marcações que, logo à partida e sem ler, faço questão de introduzir nos meus livros. As relações de poder nos livros, como em todos os contextos, implicam gestão de