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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2010

Caneta*

Tirei dois dos imensos post-it do lote amarelo que paira na secretária que me ampara o estudo. Colei-os na secretária, branca e suja de lápis, e escrevi, em cada um deles, uma das seguintes frases: - Se plantares uma árvore escolhe um terreno fértil.   - Se plantares um sentimento escolhe um coração puro; Luís Gonçalves Ferreira * Texto publicado a 26 de Junho de 2010, no Piquenique das Letras (o meu outro blogue onde escrevo em co-autoria) .

Carta Aberta

Acreditei, desde o momento em que os nossos destinos se cruzaram, que era para sempre. Como acredito. Como não consigo deixar de acreditar. Fiz tudo o que tinha para fazer. Sinto-me eternamente responsável por aquilo que, em ti, fui capaz de cativar. O tempo agora é teu. Todo o teu. As lágrimas rolam-me estúpidas e quentes. Calaram-se as palavras. Fiquei mudo. O tempo é teu. É nosso. Para sempre. Guardei, eu juro, o melhor de ti, dentro de mim. E não vou tirar.  Já estava à espera que este momento chegasse. E não consigo deixar de pensar que é melhor assim. Cultivámos sempre a verdade. Plantámos sempre o respeito. E isto é sinónimo do edifício que construímos juntos.  Amo-te. Para sempre.  Até já, Luís Gonçalves Ferreira

Suor de que rosto?

Barrete de penas. Luvas até ao cotovelo. Sabor a ananás. Cachecol cor de pêssego. Lábios singelos de doçura profunda.  É triste estar-se triste. Peço desculpa por só vos trazer isto nestes últimos dias. Posso começar todos os parágrafos das minhas falas com coisas desconexas para parecer que estou louco. Estar louco traria justificação para o meu estado de espírito, mas seria uma farsa. Um travesti de sentimentos. Um ensaio. Um teatro. O final é o mesmo. O de sempre. Não consigo mentir por mais do que algumas frases. Falar novamente em ananás, luvas e lábios seria cenário artificial de um livro qualquer. Silêncio. Prefiro o silêncio a mim mesmo. Sou eu mesmo na companhia de mim mesmo. Provavelmente, estou farto de mim. É isso. Fecho as asas. Os olhos. E o coração. Seria muito mais fácil ser uma pedra, quieta, calada, e parar de escrever para sempre. Parar de escrever seria deixar de ser. E de sentir isto.  Não, Luís. Cala-te! Não escrevas mais! Desconfortas os outros com o que dizes. A

A minha água-chumbo:

Sinto repulsa por aquilo em que me tornei. Sou uma pedra que já não sente. Um coração que já nem sorri. E mais incrível: Já fui brilhante, humano e sentimental. Estou uma linha. Riscada. Re-sublinhada. Mastigada por um tempo cansado, exausto, de ser tempo. Sou uma mera matéria existencial. Levito nas entre-linhas. E não confesso estar triste, porque isso de nada adianta. Oiço música para aliviar a carga. E vou-me, dentro do meu próprio quarto, com uma luz vermelha ao fundo, para outra dimensão. Continuo uma pedra que é coração que nem sente nem sorri. E volto. E esbarro no que sou, de forma irremediável.  Até à próxima, Luís Gonçalves Ferreira

Água-chumbo

Escrever a verdade custa. É como se ela caísse em cima, por dentro de nós, como um jugo de água-chumbo. É invisível o peso da verdade, mas é real. Não sei se a aguento mais. Não sei se me aguento mais assim. Vivo uma ficção de realidade. Uma ilusão que está prestes sofrer uma prefixação qualquer. E eu não quero. E luto. Mas, já não sei se vale a pena. Nem sei se sou capaz. A verdade é um jugo de água-chumbo. Cheguei hoje a essa conclusão.  Luís Gonçalves Ferreira

Saramago

http://www.radioenciclopedia.cu/2009/noviembre/04/saramago.jpg Morreu Saramago, aos 87 anos, numa ilha distante, desértica, de território espanhol. Disse, sempre, que esquecer-me de Portugal seria esquecer-me do meu próprio sangue. O nosso génio pequenino sempre se habituou a não prezar os génios nacionais e até a expulsá-los, por falta de garantias. Aprendi, com o tempo, a separar os Saramago comunista, político, do Saramago escritor, humanista, realista, cru e nu. Tinha uma visão global do mundo que amedrontava o portuguesismo mediano. Tenho noção disso. Colocou cães a lamber rostos de pessoas, anjos a oferecem favores sexuais a humanos, raparigas bruxas que viam de estômago vazio, Reis a oferecerem elefantes e tirou Cristo num Evangelho novo. Escreveu Cadernos e alimentou um blog ue com o mesmo nome. Viveu intensamente e foi polémico. Começou a escrever tarde e morreu na data que Alguém lhe destinou. Saramago, o meu escritor, foi-se, porque os génios também morrem e perecem. É nor

Estado que me come a alma

Os estados de alma não se controlam e eu sinto-me triste. Não há razão aparente. Nem sentido óbvio. Há um amargo que, desde de ontem, me tomou o peito e puxou para baixo. Não lhe conheço o sentido. Nem sei como será daqui em diante. Sinto, apenas. Peço, com os olhos, a todos os comigo se cruzam, que me apoiem, porque estou cansado. É um desabafo, puro e simples.  Tudo me faz chorar. Luís Gonçalves Ferreira

Xeque-mate

Queria congelar tudo e ter uma mesa de Xadrez azul-cristal. Seria peça por peça, disposto por mim. Rainha sem Castelo. Rei solitariamente protegido. Mão imperativa, impiedosa. Mas, verdade seja dita, não me posso substituir a Deus. É ele a mão que põe e dispõe. Somos meras peças de Xadrez, dispostas. A estratégia é d'Ele. O corpo é nosso. A cor é nossa. Que linha fria esta que nos separa. Xadrez de metal gelado. São Bispos, Peões, Cavalos, Torres e milhões de xeque-mate. Nada definitivo. Temos a possibilidade de ser ressuscitados por uma entusiasmada investida de um peão qualquer. O pequeno torna-se grande. Fica Rainha. Dicotomia, esta. Cortina de ferro feita de fumo. É tudo volátil. Fraco e forte. São disposições arbitrárias ou jogadas meticulosamente arquitectadas? Há sempre lugar para o erro, certo estou. Certeza que é certeza pela existência infinita da aprendizagem. Sou mediano jogador de xadrez. Mestre de algumas peças. Principiante de outras. Sou fumo e fogo. Preto e branco

Estou a ficar velho! Conclusão:

Fast Car   Tracy Chapman A saudade corrói por dentro. Esfola por fora, porque diminui-te o sorriso. Tenho saudades de ser pequeno e achar que o ano 2000 foi ontem. A passagem do tempo é produtiva, porque nos desenvolve. Mas... chateia. Eu lembro-me do ano 2000 e do medo pelo fim do mundo. Lembro-me do novo milénio ser novidade. Lembro-me de tudo e parece que foi ontem. Ontem, caros leitores. Estamos em 2010 e passaram 10 anos. Não sei, hoje, se foram suficientemente produtivos para ter este medo enorme de estar a ficar velho. Pensarão: Estás a ser ridículo, porque tens 20 anos! Tenho. Sim! Tenho, mas dói na mesma. Se tempo é sabedoria tempo significa experiência. Tempo. Tempo. Ainda noutro dia comecei o curso e conheci gente importante. Ainda ontem entrei no segundo ano. Hoje estou quase a sair dele e a começar um novo. É chato quando a realidade nos cai em cima.  Hoje tenho saudades. De mim. Essencialmente. E só me apetece parar e chorar. Até que recolha energias para o próximo passo

Ale-Ale-Alejandro

Alejandro Lady GaGa I know that we are young and I know that you may love me. But I just can't be with you like this anymore. Minutos antes de sair as redes sociais entravam em conflito e o site oficial de Lady GaGa ficava fora do ar. O suru-ru-ru sobre o video era imenso. Inventaram-se datas e estreias, mas nada oficial. Do que se falava, há semanas, nos sites de música, era, claramente, de  Alejandro , o terceiro single  do álbum "The Fame Monster". Com cenas fortes de intensidade homossexual e carga religiosa forte, Steven Klein (o realizador) e Lady GaGa produziram um templo à arte performativa e visual. Uma viúva frígida: é essa a imagem final que me fica no primeiro instante após o primeiro visionamento completo. GaGa explicou o teledisco como sendo um templo ao amor homossexual, em que ela interpreta uma mulher que tenta conquistar o coração dos homossexuais. É um amor monstruoso esse que a mata no final, percebe-se.  Em três palavras: Magistral, Poderoso e

Canção de Engate

Hoje lembrei-me de António Variações e da sua imensa "Canção de Engate". Os génios nunca morrem e este é um exemplo. Tu estás livre e eu estou livre E há uma noite para passar Porque não vamos unidos Porque não vamos ficar Na aventura dos sentidos Tu estás só e eu mais só estou Que tu tens o meu olhar Tens a minha mão aberta À espera de se fechar Nessa tua mão deserta Vem que o amor Não é o tempo Nem é o tempo Que o faz Vem que o amor É o momento Em que eu me dou Em que te dás Tu que buscas companhia E eu que busco quem quiser Ser o fim desta energia Ser um corpo de prazer Ser o fim de mais um dia Tu continuas à espera Do melhor que já não vem E a esperança foi encontrada Antes de ti por alguém E eu sou melhor que nada António Variações   Luís Gonçalves Ferreira

Rumo

Eu juro que queria escrever um bom texto sobre nós. Mas não consigo. Não posso dizer mais nada. Acho que já percebeste tudo. Entendeste tudo. Descortinamos, juntos, vários segredos. Dei-te de mim mais do que qualquer pessoa, algum dia, ousou pedir. Estes últimos tempos não têm sido fáceis para mim, e tu, na condição de estrela, continuas aí, a cuidar de mim. Ponto cadente, este que me fez descobrir muitas coisas e até destruir dogmas. Leve isto o rumo que levar quero que saibas, agora, que ficarás para sempre no meu coração. Não é uma prisão. Nem é uma dependência. É vida. E guardar-te-ei na condição de " pessoa que me fez viver intensamente ". Daí só te ter que agradecer por tudo.  Luís Gonçalves Ferreira

Início e o fim

Já não sei começar um texto sem ser pelo início. Mas, logo a seguir, vem o final. E o final é este, porque falha a inspiração. Luís Gonçalves Ferreira