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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2014

Despedidas

Desejei por muitos dias que estivesses mais longe. Especialmente quando te encontrava em todos os locais a que ia e apenas queria fugir de ti. Ainda chorava em cada fotografia que visse tua, perguntava-me o que estarias a fazer, a sentir, até onde eu poderia estar, em ti. Esperei para que estivesses longe. Longe o bastante para que todos os sentimentos fossem menores, ou não tão imediatos. Ou para que todos fossem diferentes daquilo que eram. Para que o sofrimento vindo do teu cheiro deixasse de existir. Ou para que a metamorfose esquecida do inverso não fosse pensada. Talvez só te quisesse perto, junto a mim, e tão-só me achava fraco para não suportar mais uma perda. Mais um pedaço de ti que desses para depois roubar. Questionei-me tantas vezes e o silêncio era um brinde. Uma antítese.  Passou muito tempo desde então. Estive com outras pessoas, mais do que as que queria. Mais do que aquelas que desejei. Apenas procurei um canto para me esconder, encostar e finalmente chegar ao sí

Parafuso

A excelsa manipulação sensorial da tua vontade afirma: "quero". O braço comanda, pelos braços no ar, apontando no sentido contrário. A presa, num rápido dos olhos, afirma a mesma palavra, sem nada de concreto dizer. As rugas fálicas confirmam o inevitável que existe em ti. Segue-se um cortejo de manifestações confusas misturadas aos brandos costumes dos sentimentos que sei termos possuído. -Termos, - sermos, - existirmos, e, - um mar de passados terrenos, memoriais, de nazis e fascistas, que se seguiram num projecto de usurpação da virgindade que à minha crença quase tinhas tirado. Como se fosse possível ser mais ou menos puro ou estar mais ou menos convicto. As tuas visões particulares sobre um conjunto de assuntos deixaram-me só com um parafuso preso no esófago, que engoli por engano. Consegui subi-lo um pouco, mas uma voz disse "bebe-o". Meia dúzia de gotas e... acordei do sonho. Era uma metáfora. Vi aquele corpo estranho descer-me: confuso. Na proporç

Aurinda

Estávamos em terras de Torga, num quente de Verão justo, por locais das duas estações do ano. Ia o relógio alto e vem o nosso primeiro "anjinho". Era uma senhora. Os seus bons 70 anos, cabelos já brancos, estatura baixa, cara de avó serena, mas despachada. Tinha umas mãos pequeninas e com rugas, e uma voz que apressadamente confirmou a intenção de participar da procissão da Vila. Escolhemos a melhor figura (a primeira merece sempre um prémio, talvez pela ansiedade de começar). Definimos uma Senhora das Angústias: vestido vermelho púrpura de veludo de qualidade, manto azul (quase roxo) a pôr na cabeça. Conversou sempre: perguntou como se deveria comportar, que gestos fazer, como poderia se sentar sem parecer mal. Disse que há dois ou três anos tinha tido a sorte de figurar de Senhora do Carmo, curiosamente o nome da sua Mãe. Diz que se sentiu emocionada. "Sensibilizada", usou a palavra. Eu senti as lágrimas na voz. Notava-se que era bem tratada: pele modesta "c