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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2017

Mea culpa

Quando nos ensinaram, na escola primária, a picotar desenhos jamais imaginei que, pelas sombras e os furos, crescemos; como naquele jogo que permite ganhar chocolates. O pior do amor é a forma como nos deixa ficar; lembro Anna Karenina, mas queria esquecer as estórias todas do mundo. Inércia, desgosto e vontades: como no jogo de picotados que, em criança, treinava a nossa concentração e abstração. Métodos significativos num poço para o futuro. O pior do amor é a forma como nos abandona, talvez sozinhos que nem cães abandonados. O pequenino é querido e o grande imensamente desastroso. Não sei onde arrumar este jarro que tenho nas mãos; não decora nada e não se quebra. Parti, de mãos dadas, olhando o automóvel a seguir embora. Tentamos ir pelos caminhos que conhecemos, bater às portas de sempre e chamar ajuda. A ferida ainda sangra para a bacia magenta que decora a pia da cozinha. São quase duas da manhã. Após o barulho, e tomado o silêncio em golos de chá verde, lamento as mãos vazi

estranho-amor

O amor é uma coisa estranha que tem rabos e pés de cabra, mas também flores, jardins calmos e luares de agosto. O amor é uma coisa estranha, porque medeia o ódio, a simpatia e o desgosto. O amor é uma coisa estranha, pois afasta a razão e põe o coração a saltar na boca, como, de quando em vez, faz saltar lágrimas dos olhos. O amor é estranho: como o vento e a imagem que vejo ao espelho, agora, emerso numa imensa solidão dos sentidos. O amor é estranho como essa chave sozinha, que rodou a fechadura, sentiu cheiro a gin barato, fugiu para a cama e percebeu que o amor é a potência mais incrível de todas as coisas que podemos sentir e discernir. Não fosse o amor e seríamos energia lateira e tola, sem sentido, direccionada ao vazio e à estranheza por não ter destinatário. Não fosse o amor e deixaríamos de ser todas as virtudes que achamos ser. Sejamos amor.   Luís Gonçalves Ferreira