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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2013

24/24

Fecha os olhos e agradece: ao sol, às nuvens, à imensidão infinita à tua frente. Fecha os olhos, serra as fobias, caminha lentamente, e sente o cheiro à grama e terra molhadas. É uma dádiva enorme estar vivo.  - E é-o saber sofrer. - "Chegamos sempre ao sítio onde nos esperam", diz o visionário. E é verdade. De dentro do caos da mente, nas pernas apertadas do medo, da insegurança, da estética salgada das tuas imperfeições. Máscara ao alto, sem decifrar as rugas que agora vês, depressa te apercebes como cresceste. Acomodas-te às cicatrizes, e sabes que são tuas. E como agora sabes amar o que és, passas os dedos, decoras os relevos, e colocas as metáforas perfeitas para fugires às perguntas indiscretas que toda a maquilhagem escapa. Sem desmerecer, nem desmotivar, nem tão-pouco perder gosto, apaixonas-te, lentamente, pela personagem que agora és. Olhos no espelho, da casa de campo que são as tuas emoções. "Fecho os olhos e adormeço", e há um quentinho único nas

Vinte e Quatro

Ao Sol, que é família, porque é lá que a vida nasce, e por lá que se dignifica a pessoa que sou; a estrela-mãe.  Ao Mercúrio que são os amigos, eles que, por mais diferenças que existam entre si, constroem pontes e provam o infinito que é o amor sem compromisso.  Ao Vénus, do amor, que me segrede a palavra-passe de um coração e faça acreditar que a intensidade vale sempre a pena.  Ao regrante Júpiter, que são os afectos, onde consiste a prova que ser intenso vale sempre a pena.  Ao Plutão - o inexistente -, por provar que, no final do caos, até os escombros têm sentido. É preciso decifrar fins.  E ao Universo, que é esta química incrível de nos sentirmos felizes de tão bem rodeados que estamos.  Obrigado, a todos. Até aos infinitos despedimentos, que sozinhos se excluíram: existe um coração que só de boas recordações se alicerça.  À paz, à satisfação, ao carinho, à atenção, e ao saber que é só uma data que em tudo compromete um ano de autenticidade. Luís Gonçalves Fe

É o amor

«O amor é lindo para quem sabe amar, para quem sabe viver. É assim, nós estamos casados há 17 anos. Tem de haver respeito mútuo, e depois é como a minha mãe e o meu pai me disseram:  - "Um de cada vez a zangar-se, filha, nunca vos zangais os dois ao mesmo tempo. Se te zangares ao mesmo tempo, birra na certa. Então é assim, deixa o Zé se zangar, tu não te zangues, ou então zanga-te tu quando ele não estiver zangado." Tem de ser assim, tem de haver um segredo para o casamento.» ("É o amor", um filme de João Canijo)

Avulso

E onde existe um ser humano há um jardim à sua volta. Aquele Éden é rico, com imensas cores. Crianças e adultos que brincam, pensam, se importam, ou simplesmente alheiam, na caridade da observação. São por ele talhados, inspirados, e com ele se formam, através dele se revelam. Quadros, pinturas, esculturas, educações, tristezas e transfusões. Economias, política, educação. Flores, água e árvores. O jardim, por isto, sobrevive, pelos tempos. E esta uma metáfora para a sociologia humana. Luís Gonçalves Ferreira

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,  e o que nos ficou não chega  para afastar o frio de quatro paredes.  Gastámos tudo menos o silêncio.  Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,  gastámos as mãos à força de as apertarmos,  gastámos o relógio e as pedras das esquinas  em esperas inúteis.  Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.  Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;  era como se todas as coisas fossem minhas:  quanto mais te dava mais tinha para te dar.  Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.  E eu acreditava.  Acreditava,  porque ao teu lado  todas as coisas eram possíveis.  Mas isso era no tempo dos segredos,  era no tempo em que o teu corpo era um aquário,  era no tempo em que os meus olhos  eram realmente peixes verdes.  Hoje são apenas os meus olhos.  É pouco, mas é verdade,  uns olhos como todos os outros.  Já gastámos as palavras.  Quando agora digo: meu amor,  já se não pass
«I used to make long speeches to you after you left. I used to talk to you all the time, even though I was alone. I walked around for months talking to you. Now I don't know what to say. It was easier when I just imagined you. I even imagined you talking back to me. We'd have long conversations, the two of us. It was almost like you were there. I could hear you, I could see you, smell you. I could hear your voice. Sometimes your voice would wake me up. It would wake me up in the middle of the night, just like you were in the room with me. Then... it slowly faded. I couldn't picture you anymore. I tried to talk out loud to you like I used to, but there was nothing there. I couldn't hear you. Then... I just gave it up. Everything stopped. You just... disappeared. And now I'm working here. I hear your voice all the time. Every man has your voice.»  Wim Wenders | Paris, Texas | 1984

Medo e um tanto gostar

- “Tenho medo”, disse Ela.  - “O que temes?”, perguntou Ele.  - “A morte. Amo-te e não quero morrer. Nunca me senti tão viva.” Seguiu-se um abraço, numa poça de lágrimas. Estavam na casa que tinham optado por partilhar, há quatro anos atrás, depois de dois meses de namoro. Sabiam que tinham sido feitos um para o outro e pontes se haviam construído para jamais alguém conseguir destruir. Amavam-se profundamente e faziam-no sentir, um ao outro, todos os dias. Diziam coisas como aquela, e não era só uma poesia de momento de aflição.  Andreia havia perdido o cabelo, há dois meses atrás, fustigada pelo tratamento de quimioterapia que os médicos e uma máquina lhe faziam, para matar o filho da puta do mal que a comia por dentro. Pedro, o seu companheiro, chorava naquela caminhada, com a namorada, e havia-se prometido jamais a largar. Como havia jurado não chorar à sua frente. De corpo desfeito, já sem um peito, os 35 anos de Andreia tinham deixado de existir ao se resumirem a uns mese

Recurso de Estilo

A dor é talvez o mais poético dos sentimentos. Dói e crias, de imediato. E quando, em pingas de criatividade, te sentes vazio, é às memórias de dor que facilmente te alias e, em vómito, te projetas: como um quadro de dor. E percebo, através disto, o fingimento de Pessoa: mesmo que alegre, é à dor que recorres para criar mais genuinamente. Um auto-encontro nas emoções mais profundas. É como se te aproximasses da sua essência, desses de cara com as memórias e voltasses a viver - que incrível viagem do tempo! E é assim que encontras a vivacidade de outros tempos. Reconhecer a filosofia do benefício do sofrimento, e da necessidade do mesmo, é uma superior capacidade de reconhecimento do crescimento interior. Entendes, quando aceitas o livre arbítrio da dor, que com ela tens que sofrer, sem dela poder fugir. E é como um inimigo ou um amor louco: ou enfrentas, e fazes as pazes com a sua existência, ou caminharás para sempre na preocupação de evitar o seu mal. Surge um cansaço. E então fin