A dor é talvez o mais poético dos sentimentos. Dói e crias, de imediato. E quando, em pingas de criatividade, te sentes vazio, é às memórias de dor que facilmente te alias e, em vómito, te projetas: como um quadro de dor. E percebo, através disto, o fingimento de Pessoa: mesmo que alegre, é à dor que recorres para criar mais genuinamente. Um auto-encontro nas emoções mais profundas. É como se te aproximasses da sua essência, desses de cara com as memórias e voltasses a viver - que incrível viagem do tempo! E é assim que encontras a vivacidade de outros tempos.
Reconhecer a filosofia do benefício do sofrimento, e da necessidade do mesmo, é uma superior capacidade de reconhecimento do crescimento interior. Entendes, quando aceitas o livre arbítrio da dor, que com ela tens que sofrer, sem dela poder fugir. E é como um inimigo ou um amor louco: ou enfrentas, e fazes as pazes com a sua existência, ou caminharás para sempre na preocupação de evitar o seu mal. Surge um cansaço. E então finalmente entendes que a dor e o sofrimento, ao serem poesia, são e serão uma constante que, de mãos dadas com a tua criatividade, te realizam. Daí a necessidade humana de criação de problemas, ou de hiperbolização de males pequenos, ou de montagem de obsessões: o sofrimento faz-nos falta, porque representa conhecimento. E, quem não o tem, enreda um drama próprio, cria papéis e nele actua. E a nossa vida é uma peça, e nós autores. Que fantásticos autores. Que incríveis papéis. Que merda de saber. Sabes, que merda.
Luís Gonçalves Ferreira
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