Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2015
"o teu rosto transformou-se na noite interminável que atravessa cada tarde, cada tarde, cada tarde interminável. o rio de fumo que levava o teu nome para as estrelas desapareceu dentro de dentro de dentro da minha tristeza. e o teu rosto era tudo o que tinha. e o teu nome era tudo o que tinha. tu eras tudo. tudo. e tudo é agora mais do que tudo. não imaginas, ninguém imagina, como o meu peito ficou vazio depois de partires. o teu sorriso existia ainda dentro de mim, mas já não eras tu. era a tua imagem. não penso para onde foste porque o meu peito, sem ti, fica atravessado por lâminas. tenho um silêncio dentro. toco os sítios onde estiveram as tuas mãos. sinto o que sentiste. fico acordado de noite, com a esperança secreta de que possas regressar. não me arrependo das horas que perdi a esperar-te quando ainda havia a esperança. a esperança que havia quando, a esperar-te, perdi horas de que não me arrependo. um instante na memória de chegares é mais valioso do que jardins.

Erotismo da Sombra

Entretanto, ele decidiu desistir. Arrumou as armas, limpou os escudos, e as botas resistentes que tanto o acompanharam. Os livros de estratégia, as filosofias de cabeceira, os mapas gigantes que colocava na mesa, a casa cena de filme que montava. As ruas ficaram vazias, as estradas semelhantes, e até os olhos ficaram diferentes. Era talvez uma reforma: deixou de me ligar, de dizer que me queria bem, até de fazer projetos. O amor morreu quando arrumou a última espada na bainha.  Como as convicções políticas, o amor é uma batalha, um desafio, um dogma existencial do qual não se pode desistir. É preciso vendar os olhos e seguir os impulsos cardíacos. Gritar às tropas com o peito de um líder, sem tremer a voz, fazendo soar as trombetas, e marchar.  Seguir em frente.  O amor tem mapas, espadas, e é uma guerra. O amor é um sem-número de coisas, tantas quantas as histórias onde heróis e princesas são gente normal. Arrumei a cota e a coifa. Pousei a espada. Do outro lado, as armas, qu

A (des)humanidade dos humanos

A humanidade é feita de homens e mulheres, e parece que nos esquecemos disso. Vivemos da crítica, da mentira, dos falseamento, do sujo do não-amor optado. Fugimos das pessoas escondendo-nos noutras pessoas.  A humanidade são os seres humanos, essas mulheres e esses homens com quem partilhamos o dia-a-dia. E somos nós próprios. Oiço críticas à globalidade dos seres humanos que parecem loucas e não lúcidas a esta realidade. Os humanos são egoístas, hipócritas e mesquinhos. Os filósofos deixaram de pensar o amor e nós, como global humano, sentimental, não valorizamos isso - nem pensamos na Filosofia.  Não podemos ser frágeis, nem defeituosos nem tão-só humanos. A Humanidade é então feita de quê? Homens e mulheres que não são homens nem mulheres: são coisas. Perfeitas, bonitas, trabalhadas, segundo os princípios do capital, do mercado e da economia e da acumulação. Até a palavra Humanidade é desumana: um todo que nem jus faz ao mais pequeno pedaço de terra que podemos habitar.  Ser

Dia 1 d.T.

Saí da universidade, após mais um teste da nova-caminhada a que dei início, desde Outubro. O curso, até agora, tem existido basicamente contigo. Após cada vitória, eras tu a primeiríssima pessoa a quem ligava como era eu a primeira instância a que recorrias à saída do trabalho; ou até o depósito das inseguranças, das coisas diárias, e dos projetos. Foste tu a minha força, mas hoje foi diferente. A jornada foi curta, ao contrário das coisas que nossas projetei. Criamos um compromisso de almas, de companheiros. Meio que nos sugávamos um ao outro: meio que de uma forma temida meio que de uma forma derradeira. Se calhar, meio que de uma forma natural. Vim a correr para casa dos meus pais, e procurei a unidade mais básica do amor. Não queria voltar para aquela "minha casa" que és tu. Nem queria encontrar-te em todos os cantos para onde fosse ou olhasse. Não queria, enquanto fujo. Hoje não foi diferente. Sobra-me a vergonha, a dor e uma espécie de anestesia que de tarde me f

Je suis Charlie

Há pessoas que deviam ficar com a boca calada, principalmente em momentos de profunda reflexão, especialmente quando se envolvem mortes e pistolas cheias de sangue. Para a morte em massa, bárbara, terrorista, primária, não há educação, nem religião, nem cultura, nem alternativa. Não há nuance, nem classe política, nem partidária, nem sequer profissional. Para o terrorismo, seja ele ideologicamente cristão ou muçulmano ou judeu, não há segunda nem terceira via. Há uma resposta: o repúdio absoluto. Um repúdio absoluto das ideologias igualmente básicas e primárias como aquelas que vos enchem as bocas para atacar todas as pessoas muçulmanas pela atitude de três. Não foram todos os muçulmanos que os mataram, como os doze mortos não representam o todo que o ataque quis atingir. Não queiram tomar a parte pelo todo, mas queiram ser um todo pelos valores que nos fazem plurais. Pela democracia, a liberdade, o respeito, pela tolerância: Je suis Charlie . Luís Gonçalves Ferreira

Amar demais.

"Quando amar significa sofrer, estamos a amar demais.  Quando grande parte de nossa conversa com amigas íntimas é sobre ele, os problemas, os pensamentos, os sentimentos dele — e aproximadamente todas as nossas frases se iniciam com "ele...", estamos a amar demais.  Quando desculpamos a sua melancolia, o mau humor, indiferença ou desprezo como problemas devidos a uma infância infeliz, e quando tentamos tornar-nos a sua terapeuta, estamos a amar demais. Quando lemos um livro de auto-ajuda e sublinhamos todas as passagens que pensamos que irão ajudá-lo, estamos a amar demais.  Quando não gostamos de muitas das suas características, valores e comportamentos básicos, mas toleramos pacientemente, achando que, se ao menos formos atraentes e amáveis o bastante, ele irá se modificar por nós, estamos a amar demais.  Quando o relacionamento coloca em risco o nosso bem-estar emocional, e talvez até nossa saúde e segurança física, estamos definitivamente a amar demais.