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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2014

A geração do meio.

Até o amor vem em conta gotas. A dada altura, no meio do cansaço, pedimos sentimentos médios. "Um amor médio, por favor". Sentir de mais atrapalha a visão, turva o coração e dificulta a estratégia de planear uma vida. Ainda mais agora, que ninguém tem emprego certo. Vem um vento e as nossas pernas tremem - as casas voltaram a ser feitas de palha, como nos três porquinhos. Somos a geração dos 50%: um meio amor, um meio carro, uma meia casa, um meio funcionário, um meio patrão, uma meia renda, um meio preço da carne. Ao pequeno-almoço: meia de leite e meia torrada sem manteiga, porque não podemos engordar. Temos que ter um meio corpo, um meio físico, um meio projecto de perfeição tatuada na carne. O nosso mundo perdeu graça. Somos uma seca. O planisfério do conhecimento, da filosofia, dos conceito decorados das cartilhas... É como um jogo da macaca para adultos: ganha quem sair menos vezes da zona de conforto. Deixamos de viver a intensidade das coisas, e o sabor perfeito que

Lágrimas

O amor há-de sempre de me emocionar. O de uma criança a nascer ou de uma pessoa a envelhecer. O dos namorados, a abraçarem-se, na rua. E dos que não o podem fazer, por medo que seja.  Mas até esse se vê na timidez do sorriso ou no encosto de ombro envergonhado, ou naquele olhar tímido de quem despe a alma de outra pessoa. Há-de sempre me emocionar a entrega completa e o pai que abraça um filho, depois de uma vitória ou um fracasso. Hão-de provocar-me lágrimas os avós cansados que estragam os netos ou os netos que acompanham os avós ao médico. Hei-de chorar sempre quando o amor se cruzar comigo. Tentarei sorrir de volta, mesmo a chorar. As lágrimas lavam a alma e o amor também. Os sinais de amor nem sequer deviam ser os corações ou o vermelho, podiam ser lágrimas. A chuva é aquilo que mais se parece com o amor: é tímida ou feroz, é determinada ou frágil, alenta, mas também preocupa. A chuva, como o amor, aparece quando menos esperamos, estragando ou construindo planos. Às vezes também

Cenas um bocado fodidas

Por que da primeira vez que vi este vídeo fui às lágrimas, como quase ia agora, ao revê-lo. Por que às vezes nós desistimos e erramos nos castings . Por que descobrimos que o arrependimento não nos devolve pessoas, nem memórias nem torna presentes os cheiros que, depois de nos abandonarem, ficam no ar. Por que é quando o silêncio nos doma que percebemos a infinita consequência da perda e do lamento do mau tratamento. Por que sabemos, assim, que o rio corre infinitamente para o mar, e não pára a tempo de lhe congelarmos um enésimo de riqueza. por que a vida nos ensina muitas coisas. Por que sempre chorei por quem destas dores sofre, por já delas ter sofrido, numa inundação de compaixão. Por que alguém me ensinou isto, calada, a sete palmos do chão, enquanto eu, aos gritos, lhe tentava dizer: "pudesse eu ter lido o futuro".

Sinais de Fumo

Um homem acorda e vê-se rodeado de pessoas absolutamente desconhecidas para si, que o abraçam e estão felizes. Um vulto vestido de vermelho, outro em roxo, mais um que lhes somavam, em branco. Pareceram-me homens, e um deles tinha uma luz brilhante a sair-lhe das mãos. Vinham em fila, e todos me abraçaram. Tentei perguntar-lhes o nome, mesmo sentindo-me num sonho dentro de um sonho. O corpo não me respondia, só lhes sentia o toque, a alegria e o quentinho do cheiro. Rosas, jasmim, carmim e um certo tom encarnado nas maçãs do rosto. Conversavam, entre si, e eu não percebia a sua língua. Lembro as sensações. Um recordava amor, outro compaixão e o último, mais perto da luz, transmitia paz. Eles vinham de uma espécie de túnel e os livros que havia lido, há dias, sobre experiências de quase-morte, lembravam-me um cenário assim. Talvez fosse aquela a forma pela qual o meu cérebro catalizou os meus sentimentos em relação à leitura. Afinal, terei levado parte dos meus quase-trinta anos

A primeira vez de Deus

De: deus@eden.uni Para: comunicacaoexterna@eden.uni Bcc: arcanjomiguel@eden.uni; arcajogabriel@eden.uni; agostinho@eden.uni; tomasdaquino@eden.uni; dep.informatica@eden.uni; ministeriofazenda@eden.uni; comissoes.geral@eden.uni Assunto: Deus | Criação da Conta Pessoal de e-mail O departamento de informática do Éden comunicou-me, há dois dias, acerca da sugestão, por parte do Ministério da Informação e Comunicação Terrena, para a criação de uma conta pessoal de e-mail, por forma a agilizar os processos de informação entre o meu gabinete e todas as unidades. Lembro que as mesmas já possuíam tal tecnologia desde há uns meses, sendo que, como é do conhecimento comum, possuo uma certa renitência à utilização de novos recursos de comunicação. Depois de ter sido contratado um redator pessoal, com a devida aprovação da Fazenda do Éden, para me aproximar da utilização dos computadores, constatei que esta ferramenta permite um maior nível de poupança. Pretendo assim transmitir