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Lágrimas

O amor há-de sempre de me emocionar. O de uma criança a nascer ou de uma pessoa a envelhecer. O dos namorados, a abraçarem-se, na rua. E dos que não o podem fazer, por medo que seja.  Mas até esse se vê na timidez do sorriso ou no encosto de ombro envergonhado, ou naquele olhar tímido de quem despe a alma de outra pessoa. Há-de sempre me emocionar a entrega completa e o pai que abraça um filho, depois de uma vitória ou um fracasso. Hão-de provocar-me lágrimas os avós cansados que estragam os netos ou os netos que acompanham os avós ao médico. Hei-de chorar sempre quando o amor se cruzar comigo. Tentarei sorrir de volta, mesmo a chorar. As lágrimas lavam a alma e o amor também. Os sinais de amor nem sequer deviam ser os corações ou o vermelho, podiam ser lágrimas. A chuva é aquilo que mais se parece com o amor: é tímida ou feroz, é determinada ou frágil, alenta, mas também preocupa. A chuva, como o amor, aparece quando menos esperamos, estragando ou construindo planos. Às vezes também obriga a reordená-los e darmos um jeitinho à nossa vida na sua função. O amor é a coisa mais bonita do mundo a par das pessoas que amámos. Há dias que saio à rua à procura de amor e de um calorzinho de lareira no peito. Eu tenho um sonho e muitos projectos. Espero que o amor esteja sempre transversal a todos. Se não estiver, prometo que esteja. Até a promessa é um amor: o de termos compaixão pelo que nos rodeia por tão-só ser a nossa vida.

Luís Gonçalves Ferreira 

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...