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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2012

Talvez

Talvez.  Que destino era aquele que não deixava que o presente fosse saboreado? Talvez almas destinadas uma à outra, mas coladas em corpos estranhos. Talvez fossem espíritos encontrados com um desafio meta-físico pela frente. É a simbiose dos sentimentos. É o saber que se gosta, e que se viveria perfeitamente com. É o duvidar se seria melhor sem, mas tremer por dentro quando não se tem. É a confusão. São corpos unidos, criados, siameses, mas que não funcionam perante os nomes dos homens. Será esta uma prova de eternidade? Será este um pedaço que as línguas, as palavras, as legendas não deixam perceber? Que destino amargo este de desejar ter, para que a censura da intelectualidade tome conta de tudo. Que irreais certezas. Que acreditar vão. Que fado? É o estar e viver com isso todos os dias. É comunicar por palavras para que os sentimentos se preencham - é o acontecer o oposto. Teremos sido amantes mudos noutra vida?  É melhor não acreditar em destino. É melhor não acreditar

Espírito Santo, Natal: feliz.

Tenho saudades de quando o tempo passava a conta-gotas, bem devagar. Somam-se as brincadeiras, os jogos, os passatempos. Nunca mais chegava. Havia tempo para pôr a mesa, não saborear a refeição, correr pela casa, cantar de forma impaciente para uma máquina. Hoje nada disso me importa. O tempo passa a correr, entre dois jogos de xadrez. Discute-se política, sociedade, chora-se por dentro. Toda esta saudade. É este o maior reverso de crescer: o de saber o que se sentiu e nunca mais lá poder estar. Os adultos refazem logotipos, imagens, tentam replantar o espírito. O pai Natal já não existe, o menino Jesus ficou-se entre Belém e Braga, e o presépio continua quieto, como sempre. A maturidade dá-te paciência: a de não esperar por nada. A de já não saber sentir o desembrulhar do presente. Hoje só há uma criança, que não faz barulho. Existem primos, mas gigantes. Somam-se adultos e tristeza. Será normal esta circunstância de crescer e perder essência. Quem diria que foram crianças um dia: de

Fim do Mundo

O fim é o início. O Mundo - como o conhecemos - poderá ter começado o seu fim e nós nem por nada demos. Nem vamos dar. Concentramo-nos no físico, nas explosões, nos meteoritos. Nenhum profeta seria tão óbvio, tão plano. E no meio deste deleite fácil, algo poderá estar de facto a mudar. Ou poderá ter começado a alterar-se há mais tempo ainda, porque o fim é o início. E a morte, como o nascimento, mesmo que invertidos, estarão lá sempre. Tudo morre. Tudo renasce. Tu nasce. O problema está na noção de tempo, de fim. Ou não. Ou o problema está em nós e nesta tremenda sensação vazia de procurar certezas em tudo: até nas profecias. Os Maias podem simplesmente ter escolhido renascer em vinte e um do doze de dois mil e doze?  Deixar o renascimento para os seguintes; o saber que não esgotamos tudo, que não sabemos de tudo: será essa a maior prova de amor?  O que é, no fim das contas, morrer?   Luís Gonçalves Ferreira

Estrelas

Vim-vos falar de estrelas. Daquelas que brilham, de noite e dia, e moram lá sempre. É sempre de estrelas que se faz qualquer dia especial. Das que brilham, mesmo quando há um nevão lá fora ou um apagão dentro do peito. Quero-vos falar de estrelas e confessar-vos que a minha colecção é invejável. Eu tenho estrelas. E orgulho-me todos os dias disso mesmo. E hoje, por haver velas com estrelas, decidi-vos segredar que, mesmo egoísta, mesmo distante, mesmo menos contente, mesmo mais feliz, mesmo que cheios de "mas" e "mesmos", as minhas estrelas brilham todo o dia, como de noite. E eu consigo senti-las. As minhas estrelas adormecem e acordam comigo. E ter estrelas, das que dão abraços e beijos - ou das que apenas brilham quando a luz falha, é das coisas mais especiais do mundo. E entre brindes, e estrelas, que se festeje com o coração, das estrelas. É esta a novidade do fim do mundo: as estrelas têm coração. E assim acrescento: o sol também ama. A lua.

Surdina da saudade. Do medo.

São saudades. Das que tiram a fome, a vontade de sair, o medo de te encontrar. São as saudades. As de não saber o que sentes, o que fazes, onde estás. São as saudades. As de sentir que continuo um adolescente, outra vez, por só me apetecer fazer tudo o que está errado. São saudades e esperanças. Das estúpidas, por querer acreditar que ainda me amas, apesar do ódio que sentes. É a mudez. É a cegueira. É a poesia. É o tudo resto que juntamos, um com o outro, num vaso de areia à entrada de casa. Tenho medo. De não deixar de sentir isto. De não seguir em frente tão cedo. Tenho medo. Do teu longe e desta certeza doente que nunca mais nos vamos largar, porque duas almas assim não têm sexo como nós tivemos. Tenho medo. Que este suor, só por ti tatuado, não se misture mais. Daquela forma - a nossa - tenho a certeza que nunca mais. Tenho medo. Do escuro. Da falta de quentinho da lareira. Das partidas. Vou entrar em piloto automático, novamente, e continuar a lutar para que tudo fique bem. Sã

Cartas de amor?

Não há nada de comparado ao teu cheiro de final de noite. Não há nada de semelhante à tua timidez complexa, ao teu autismo não patológico ou à tua serenidade. Não há nada explicavelmente semelhante ao “deixar para depois”, pela certeza da eternidade ou medo da entrega absoluta. - Sabe tão bem escutar “temos muito tempo”.  (Penso logo que te voltarei a perder)  Habituei-me a tempos curtos e a fantasias que rápido perderam o pó. Não existe nada mais bonito e intrigante que as tuas cicatrizes. Não existe nada mais incrível que os teus sinais nas costas, a tua pele macia, o teu cheiro a fruta tropical, no depois do banho. Não existe nada como esta insegurança, este medo de te perder, ou esta certeza quase absoluta que vai durar para sempre. Não há nada como sentir quando me queres e quando erradamente te sinto a cansares da minha presença. Tudo para que eu não prenda de mais, tudo para que eu não perca a minha essência - afinal foi isso que te apaixonou.  Sabes, amo-te como ac