Avançar para o conteúdo principal

Surdina da saudade. Do medo.

São saudades. Das que tiram a fome, a vontade de sair, o medo de te encontrar. São as saudades. As de não saber o que sentes, o que fazes, onde estás. São as saudades. As de sentir que continuo um adolescente, outra vez, por só me apetecer fazer tudo o que está errado. São saudades e esperanças. Das estúpidas, por querer acreditar que ainda me amas, apesar do ódio que sentes. É a mudez. É a cegueira. É a poesia. É o tudo resto que juntamos, um com o outro, num vaso de areia à entrada de casa. Tenho medo. De não deixar de sentir isto. De não seguir em frente tão cedo. Tenho medo. Do teu longe e desta certeza doente que nunca mais nos vamos largar, porque duas almas assim não têm sexo como nós tivemos. Tenho medo. Que este suor, só por ti tatuado, não se misture mais. Daquela forma - a nossa - tenho a certeza que nunca mais. Tenho medo. Do escuro. Da falta de quentinho da lareira. Das partidas.
Vou entrar em piloto automático, novamente, e continuar a lutar para que tudo fique bem. São dez de Dezembro e sinto o teu peito no meu e aquele calor a zarpar-me pela pele.
Tenho medo. De te perder para sempre.
Tenho medo. De tudo. 
Tenho medo. De funerais. De despedidas. De perdas. De ti.
Tenho saudades.
Tuas. Nossas. E é impossível que isto seja um monólogo. 

Luís Gonçalves Ferreira

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Repondo a verdade

Depois de inúmeras tentativas (que agradeço), passo a devolver o dente ao leão, a identificar aquilo que é verdade ou mentira: 1. Adoro manteiga de amendoim Verdade. Quem convive comigo (ou quem me ouve falar) sabe desta paixão. Em pequeno ia para a casa da minha tia e comia pacotes dela. Hoje, depois do sofrimento para emagrecer, contenho-me no consumo. Mas a paixão existe, ai se existe... 2. Compro todas as edições da “Super Interessante” Verdade. Compro-as todas (pelo menos de há dois anos para cá) sem falhar um número. Fascina-me a forma despreocupada, límpida e inteligente que pautam os artigos da revista. 3. Já apareci no programa da Fátima Lopes vestido de anjinho Verdade. A minha mãe foi ao programa SIC 10 Horas demonstrar ao país o seu ofício (vestir anjinhos) e eu, filho devoto e cumpridor, pousei como Jesus Cristo (com cabeleira e tudo). Vergonha. Foi o que me restou do acontecimento. :) 4. Leio a Bíblia constantemente e o meu Evangelho favorito é o de Mateus ...

Aceitação do Prémio Lusitania História – História de Portugal Academia Portuguesa da História

Senhora Presidente da Academia Portuguesa da História, Professora Doutora Manuela Mendonça,  Senhores Membros do Conselho Académico, Senhoras e Senhores Académicos,  Senhor Dr. António Carlos Carvalho, representante da Lusitania Seguros, S.A., Ilustres Doadores,  Senhoras e Senhores,  Vestidos de Caridade, Vestidos de Fé, Vestidos de Serviço, Vestidos de Pátria.  São vários os nomes que podem ter os vestidos que, ao longo da História, foram oferecidos de ricos para os pobres, dos homens e mulheres para os deuses, dos senhores para os seus criados e criadas, de um país ou reino para o seu povo, do ser que não se é para o que se quer ser. Em todos eles há pedido, necessidade, dádiva, hierarquia e crepúsculo. A minha avó Júlia, costureira de ofício e filha de um armador de caixões, fez durante décadas roupas de “anjinho” que alugava nas festas e romarias do Minho. Miguel Torga, num de “Os Contos da Montanha”, referiu que nem o Coelho nem outro qualquer da aldeia o ...

Carta IV

Avó, como estás? Noutro dia, como sempre, fui ver-te ao local onde está a tua fotografia e umas frases iguais a tantas outras. Eram vermelhas, as tuas flores. Estava tudo bonito e arrumado. A tua nova casa, como sempre, estava tão fria. O dia está sempre frio quando te vou visitar lá, já reparaste? Espero que no céu seja tudo mais ameno e menos chuvoso. Tu merecias viver mais tempo, porque eras calma, serena e um porto seguro. Queria voltar a ser menino e ter-te novamente e dar-te tudo o que merecias de mim. Era muito pequeno para perceber como merecias mais carinho... Tenho saudades tuas, avó. Do teu colo. Do teu carinho. Da tua protecção e de quando ias comigo passear, à terça-feira. Fomos dois companheiros muito fortes, não fomos? Deixaste-me de responder... Não te oiço. Mas sinto-te. Sinto muito a tua falta, onde quer que estejas.  Tenho muitas saudades tuas. Muitas mesmo.  Até logo, nos sonhos, avó. É só lá que me consigo encontrar contigo e abraçar-te docemente. Luís...