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Parafuso

A excelsa manipulação sensorial da tua vontade afirma: "quero". O braço comanda, pelos braços no ar, apontando no sentido contrário. A presa, num rápido dos olhos, afirma a mesma palavra, sem nada de concreto dizer. As rugas fálicas confirmam o inevitável que existe em ti. Segue-se um cortejo de manifestações confusas misturadas aos brandos costumes dos sentimentos que sei termos possuído.
-Termos,
- sermos,
- existirmos, e,
- um mar de passados terrenos, memoriais, de nazis e fascistas, que se seguiram num projecto de usurpação da virgindade que à minha crença quase tinhas tirado. Como se fosse possível ser mais ou menos puro ou estar mais ou menos convicto.
As tuas visões particulares sobre um conjunto de assuntos deixaram-me só com um parafuso preso no esófago, que engoli por engano. Consegui subi-lo um pouco, mas uma voz disse "bebe-o". Meia dúzia de gotas e... acordei do sonho. Era uma metáfora. Vi aquele corpo estranho descer-me: confuso. Na proporção da insignificância da tua existência. Do resto que valorizo. Há dias que a metástase chega aos olhos e os 90% invertem-se em si mesmo, fundindo-se na totalidade a que dizem respeito. O amor tem matemática?

Luís Gonçalves Ferreira 

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