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Há um par de dias, quando estava a trabalhar no meio da herança que nos deixaste, contou-me um vendedor mais pormenores sobre ti: a inteligência dos negócios misturada com a mãe que sempre foste. 
Mãe para nós e para todos aqueles que colheram da tua bondade.

Não me lembro do teu cheiro, mas ainda me emociono quando tento encontrar o teu rosto. Hoje já não existe aquela saudade esfomeada que outrora em mim habitou; hoje há calma, avó Júlia. Serena calma como o mar de Inverno.

As noites de 20 de janeiro, dia de São Sebastião (padroeiro da casa do bisavô), ainda continuam frias. Noites geladas com aqueles dias quantos os anos cujas duas mãos já não chegam para contar.

Ias adorar ver os olhos azuis da Francisca...

Passaram doze anos desde que a presença mais renovadora das nossas vidas partiu, deixando-nos o império da sua memória. Entretanto, remendamo-nos no melhor que sabemos ser em recordação do profundo que há de si entre nós.

Luís Gonçalves Ferreira 

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...