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Baloiço

Rodeado de medo, chegaste, de mansinho, como quem acolhe o tempo na palma das mãos. Sopraste-me rosas, entre ventos... Tudo me fazia lembrar os tempos de menino em que vivia tudo entre as palmilhas dos teus cabelos. Eram os passos da alma, de graça, que me chegavam de tempos a tempos. Ou melhor, através de gente. Reacções físicas e metafísicas iguais. Pressões iguais. Relógios iguais. Era precisamente o tempo que me igualava tudo a ti, pesadamente. Era precisamente o amor pelo tempo que não te queria deixar ir, neste alvores pesados da memória. Não, não é isso a que me quero dedicar neste momento. Não, não é isto que parece arrependimento. Não é a isto - que sabe a um qualquer sentimento negativo, vagamente instalado nas linhas que me preenchem o espaço... o tempo. Partiste, de mansinho, outra vez, para amanhã haver um regresso. Nenhum será tão cândido, puro e autêntico como os destinos que cruzamos, lá longe, na aranha do tempo. Nos sonhos, que me acalentam a noite e as pontas dos dedos, vais regressar como uma desilusão. 

Luís Gonçalves Ferreira

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...