Fazem os tempos em que me liguei ao Facebook, por energia pessoal, influência de outros, mas a eterna procura pessoal do que é novo. As potencialidades da nova rede social, que abarca mais de 700 milhões de utilizadores em todo o mundo, são enormes. Rede de contactos profissionais ou pessoais, plataforma de emprego e conhecimento, interacção de forma de estar, pensamento ou crenças. É uma second life da própria existência real, com os dramas, ficções e expectativas que na realidade existem. É o "livro das caras", das outras existências, e de uma segunda vida que se desenvolve. O problema acontece quando a segunda vida se confunde com a primeira e elas se condicionam mutuamente. Fazes da segunda vida uma exposição enferma e errada de ti, e crias imagens e sementes torpes da tua face presencial. A ilusão do conhecimento pessoal e do encantamento do corpo perde-se nas análises que fazes, sozinho, dos perfis, das fotos, das trocas de comentários. As pessoas dantes conheciam-se presencialmente e interagiam assim, com a vergonha e sem a máscara que o Facebook proporciona. Hoje está tudo diferente. Crias redes mentais de suposições e teias. Acreditas nelas. E dás-te respostas. Condicionas a vida natural por causa disso. Reparei que andei anos destruir uma "persona" falsa, plástica, mas construí, recentemente, por aquela vida, outro boneco, vergonhoso, para o qual ontem caiu a sabedoria dos olhos. Estou fechado no escritório, sem luz, com um temporal lá fora e outro cá dentro, no interior da minha cabeça onde está a revolta do que sinto ou do que não senti, do que não fiz ou do que fiz erradamente. A vida não é isto. A vida não é exposição. E sinto que preciso de escrever um livro, recomeçar a estudar como bom aluno que sempre fui e fazer a terapia da aprendizagem de viver sem ficções. Não posso voltar atrás. Não posso curar nada que foi feito. Não posso aprender de novo. Tentei remediar. Vou fazer de tudo nesse sentido, sem nunca jamais me esquivar a dizer o que penso, sinto e olho na cara, mesmo que com medo, mesmo que com vergonha, mas sempre sem a máscara que torna tudo mais fácil de tão difícil que é na verdade. Aos 21 anos cheguei a esta conclusão, com a ajuda de uma das melhores pessoas do mundo. Nunca é tarde. Nunca é tarde.
Luís Gonçalves Ferreira
atrevo-me a dizer que "Francisca gosta disto"
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