Durante a vida coleccionamos "amores-exemplo". Pilares de força, determinação, companheirismo, compromisso, eternidade. De uma singularidade única, num profundo amor singelo. Os "amor-exemplo" são perigosos, porque nos alucinam, críticos dirão que nos desfocam da realidade física das coisas, mas também esses gostam de sonhar. É o sonho que faz do amor uma transversalidade.
José e Pilar são, sem margem para grandes dúvidas, um "amor-exemplo". Como os de filme, ou de novela, ou de livro. São como um livro dentro de uma vida cheia de livros dentro. Uma matrioska de amor.
José e Pilar fazem cheirar tudo aquilo que de mais bonito há: uma força que une, por entre as margens da diferença que, por preguiça, qualquer um parece querer que um dia se poderá afastar. Afinal não é Deus que une para a eternidade, é o Homem. José e Pilar, são um "amor-exemplo". Estão agora entregues à eternidade, mesmo com que em universos paralelos. O que é o amor, afinal? O que viveram, a memória que resta, o compromisso que ainda falta? O que é aquele amor? Uma discussão eterna entre a razão e a emoção?
O amor parece-se com livros. E o amor esgota por que só ele exausta e dá ânimo da forma que o faz. Como uma droga: até a ciência acredita no amor. José e Pilar eram imperfeitos e isso faz da obra de arte o apogeu da beleza maior. Ele com rugas, ela com juventude. Ele com crítica, ela com doçura. Ela sem papas na língua e ele já cansado de falar, contando palavras, em gotas, fazendo de todas um santuário único. Ele escreve e ela comenta. Ela revê tudo o que ele escreve. José morreu e Pilar não, mas certamente há coisas em José que são vivas e em Pilar que já se tornaram mortas. E até nisso são exemplo: de vida e morte.
José e Pilar são uma matrioska. Assim como o amor o é.
Luís Gonçalves Ferreira
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