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Sobre sei lá bem o quê

Chegamos ao cais, olhamos o placard informativo: contavam uns minutos. Não sabíamos quando nos veríamos a próxima vez. E isso era cansativo. Talvez nunca mais. Talvez mais nenhuma hora seria marcada no relógio, para nós. Eram horas que não tenho memória. Levantei-te a mão, despedi-me com um beijo, no teu coração. Partiste. Passaram-se tempos e ia à estação, dia após dia, recuperar o cheiro que as paredes me faziam recordar. Era como se te voltasse a ver de todas as vezes que não te via. Hoje sinto que é finalmente o momento de despedida. E tudo, absolutamente tudo, foi como tinha de ter sido. E o destino, esse Carnaval sem data, pregou-nos uma partida. Teriam acabado os ingressos? Pensei que sim, durante as perguntas esperançosas que fazia a mim mesmo. Hoje percebo que, durante todo este tempo, estive virado para a linha errada. Milhares de maravilhas poder-me-ão ter cruzado as costas. Tomei a decisão de não mais voltar, mas confesso que ainda dói saber que a estação existe. E provavelmente passarás na frente de uns tantos como tantas vezes nas minhas costas te serpenteaste.

Luís Gonçalves Ferreira

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...