Avançar para o conteúdo principal

Patologias

- Tenho aqui uma dor, por entre as costelas e o pulmão, doutor.
- Identifico ansiedade, caro. E mal ruim. 
- Devo tomar algo?, perguntou a paciente.
O médico, pronto, exclamou:
- Tempo. Isso que tem, passa com tempo. Mais novo e achei que se comprava. Enganei-me. Obstinei-me à procura de respostas, não as encontrei. Tentei automedicar-me através das hetero-drogas que fui achando. Sofri mais. O conselho que tenho para lhe dar é que saiba esperar. Eu não morri e quando dei por mim já tinha esperado tudo o que havia para esperar. A novidade é: hei-de esperar a vida inteira. É isso o tempo: uma ansiedade por algo que realmente não existe. O enésimo antes deste é passado, por isso de que adianta correr atrás do presente, ou do futuro, ou do tempo? É preciso saber aceitar. Aceitar e acreditar. Nas pessoas, no tempo, no que não existe. E isso é o mais complexo, especialmente quando queremos o que em nada depende de nós. Agora durma, meu caro. O tempo passa a correr e nem boa noite ao futuro consegue dizer.

Luís Gonçalves Ferreira

Escrito originalmente em 28 de Maio de 2013, na minha página do Facebook. 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...