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Não me apetece título

Todas as pessoas têm um pouco de privilégio em perseguir aquilo que lhes faz mal. Como se o vício da sua loucura fosse a loucura em si mesma, sem adjacências, nem intermediários, nem tão-pouco actores secundários que um dia roubariam a cena e subiriam de posto. Inatamente nos colamos ao erro, por mais surdas, estridentes ou caladas que sejam as vozes que nos avisam. Por mais prudentes que sejam os deuses que nos auxiliam... Por mais sensatas que sejam as ombreiras que nos tombam o pecado, ou o túmulo ou a decadência em peso morto do corpo moribundo em que aquela carência nos transformara. Morreremos sem perceber o porquê de tanto adorarmos o mal-trato? Acabaremos com isto na quarta ou na décima adolescência? Na verdade, existe justiça superior, do karma, ou simplesmente temos que nos deixar de preocupar com isso?
Viver assusta-me enquanto paira na incerteza. E não há cartas nem deuses nem búzios nem ciência nem presidentes nem nada de humano que deite areia neste vazio. Viver assusta-me. Se e só se quando pairado na incerteza. E que tal partimos da única e inatacável que temos? E que tal reorganizar tudo em função de nós mesmos? Afinal, restamo-nos, na última hora. E ter-nos é a única certeza na vida. Na puta da vida.

Luís Gonçalves Ferreira

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...