Hoje ficou dia até mais tarde, porque anoiteceu mais tarde. Constatação vã. A dificuldade de convivência entre a treva e a claridade está resolvida pelo relógio de Deus: ora dá palco a um, ora retira-o a outro, por estações. Agora o dia começa a vencer a treva. O bem começa a destruir o mal: como na vida. As coisas acontecem em partes, como por estações. Existem pessoas que são países tropicais, outros existem na nacionalidade nórdica de si. Acontecem Açores dentro de mim: sinto, entre os dedos, as quatro estações do ano. A oscilação bipolar entre a dúvida de estar no caminho certo e a certeza concreta que a felicidade se constrói do presente. A sobrevivência do passado sobre o futuro é errada. O nosso relógio não pode parar, porque o sol caminhará para se deixar vencer pela lua. A terra, inclinada, está doentemente no caminho certo: o do quotidiano, da pendulação entre os pólos. Quero tomar o rumo do Verão e deixar-me ir no teu baloiço. Vamos viver a Primavera e preparar os corações ...