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Casa Pia

"Casa Pia: julgamento do processo de pedofilia entra no ano cinco sem fim à vista"
(Agência Lusa)

Como a justiça é lenta em Portugal.
Em terras de sua impotência Cavaco Silva (acho que os lusos perceberam, por força dos acontecimentos, que ser Presidente da República Portuguesa é ser uma Rainha Isabel II sem coroa), de sua insuficiência Sócrates (nada a acrescentar, porque o homem até tem carisma, mas falta fazer muita coisa em Portugal), de sua estupidez Dr Mário Lino (na margem sul há mais que camelos e areia, haverá pelo menos um aeroporto), de sua sapiência Manuela Ferreira Leite (se o país tá mal e ninguém diz, F**** pós políticos são mentirosos, se ele está mal e a mulher diz, f***** que é pessimista), a justiça tarda, falha e tem a proeza de conseguir ser injusta.

Este julgamento arrasta-se à 5 anos. Não tem fim à vista. Os arguidos andam por aí, normalmente, a tentarem recompor a imagem, a disfarçar provas e a fazerem trinta por uma linha. Os magistrados não são deuses e têm que resolver recursos, rever provas, reinquirir arguidos e testemunhas, cumprir prazos, esperar por prazos dos agentes judiciais.

As testemunhas ninguém sabe quem são (só os alegados violadores). Acarretam, com certeza, a injúria, a infâmia, a vergonha de serem de um país que protagonizou os seus injuriadores. Tiram-lhe a inocência, a candura, mergulhando-os na criminalidade, na vergonha, no medo, por um dia admitirem, em coragem, ter sido abusados, molestados e agredidos na sua essência.
A culpa, em Portugal, para além de morrer solteira, parece muita das vezes ser dada à vítima, àquela que deveria ser, todavia, protegida (criticamos os islâmicos que condenam ao apedrejamento a mulher violada, mas em Portugal já ouvimos dizer, tantas vezes, que se aconteceu x ou y foi porque ela andava na "má vida", nos "maus caminhos", com "maus amigos", com mini-saias, porque bebia e fumava). Na boca de muitos eles mentem, fazem parte da cabala, do compló, os seus protectores tornam-se, em revés do processo, os destruidores da imagem alheia.
No meio disto tudo (onde penso haver mais verdade para além dos 7 arguidos) vão ser condenados os fracos, os pobres, o Estado, as revistas e os jornais. Os primeiros porque não têm meios nem amigos, que lhe encapotem as provas. O segundo será processado e ser-lhe-ão pedidas indemnizações pela acusações jurídicas. Os últimos, por vezes com razão, ficarão impunes, porque informar de forma negra e contaminada, com sensacionalismo, é normal em Portugal.
Cheira-me que o caso foi aproveitado por meios políticos, económicos e sociais para muitos fins. Alegadas cabalas contra partidos, acusações mal feitas, provas mal recolhidas, condenações pré-julgamento, fazem com que este processo se perca em especificidade. São esses os mega-processos e as suas particularidades que o nosso Procurador-Geral condena.

O direito ainda não consegue lidar com esta forma mentis tão portuguesa. Antes de as instituições condenarem, já os alegados malfeitores foram escamoteados, ofendidos, protegidos, opinados por mil línguas, as testemunhas dominadas, e os amores de verão escondidos.

O ciclo de impunidade impera neste mui nobre país. Corrupção, crimes de colarinho branco, fuga ao fisco, lavagem de dinheiro, dinheiros públicos gastos em ilhas e carros, são crimes acobertados pela sociedade, bem-vistos nos cafés e nas tascas das mais recôndidas vielas portuguesas.

Os problemas a que me refiro não são específicos deste caso particular. São comuns a tantos outros casos e, certamente, a tantos outros países por esse mundo fora.

Eu, em frente ao televisor, aguardarei pelo desenrolar do processo.
Sempre presente, porém, que a condenação das pessoas faz-se nos tribunais e não nas ruas.

Luís Gonçalves Ferreira

Comentários

  1. Quando umas certas pessoas sairem da escola de Direito, a justiça vai se tornar bem melhor, nao é sr dr?

    beijo

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