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Choques geracionais

O medo de mudar.
Existe, entre as pessoas, um medo incrível de mudar, de duvidar, de perguntar.
Nos meandros das conversas (especialmente com outras gerações) apercebo-me que a consciência de Justiça está emparedada entre teias sociais e medos colossais. As percepções (desfocadas) do que é realmente natural não coadunam as minhas opiniões, a minha formatação ideológica.

Dizem que ainda vou crescer, que irei aprender que isto não é assim, porque simplesmente não pode ser. Mas quem ditou que não podia ser de outra forma? Qual é fundamentação desta jaula que as pessoas habitam? Habitam nela porque sim ou porque tem que ser? Mas, caso tenha que ser quem mandou que assim fosse? E depois de o ser ninguém ousa mudar?

Este sentimento que tudo é conspirado contra as pessoas, que os capitalistas são maus e os socialistas bons (ou vice-versa), que a felicidade é impossível, que o medo é normal, que o Estado pode agir nas entre-capas do poder, que o poder é corrupto por natureza, que as pessoas são más por natureza, que tudo está instrumentalizado por uma força oculta (ora são ingleses, ora comunicação social, ora sistema, ora Deus), entristece a pessoa, que deste lado, vos escreve.

Sonho que tudo, um dia, possa mudar.

O espírito crítico não pára nas cabeças das pessoas. Não se permitem a duvidar e não querem que os outros duvidem. Esta mentalidade, algemada e amordaçada, abespinha-me.
Começo a não conseguir deixar de chocar, por aquilo que penso.

Talvez seja esta juventude fugaz que não me deixa descansar.

Hoje, confrontei-me com uma discussão sobre o sistema, sobre o poder oculto, sobre a habituação à falta de liberdade. Assinam-se contratos sem ler, não se questionam atitudes das instituições, não se fazem reclamações. Come-se para calar. Engole-se em seco.

Este modo egoísta de viver, a ideia de achar que o Estado é uma potência musculada com braços, mãos e cabeça, incomoda-me.

Como se pode falar em solidariedade, quando o próprio Estado coloca todos contra todos? Guerras por cores políticas. Bufos, em versão democratizada, que entram, por cá, em cena outra vez.

A velha senhora não é, afinal de contas, tão velha assim.

Tudo, porque hoje soube que mais uma fábrica vai fechar. Que os empregados não facilitaram a recuperação da empresa. E que o patrão descapitalizou a empresa, deixando-a sem património; que pediram, aquando de um processo de abertura de uma aplicação bancária, uma declaração de rendimentos. Ninguém sabe para onde ela vai, nem para que servirá; e, que milhares de empresas, por esse país fora, podem estar aproveitar a crise para despedir os funcionários.

Sem mais,
Luís Gonçalves Ferreira

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