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'Coisa' sem sentido

Todos morrem.
Olha em teu redor e reflecte sobre a fatalidade de tudo o que te rodeia. As flores murcharão e morrerão. A mãe, o pai, os irmãos, os avós, os tios, os vizinhos, os amigos, o cão, gato e pintainho, morrerão também.
Todos.
Tudo morrerá.
Quando mais não seja na data do teu próprio colapso físico. A partir daí só existirão recordações. Quiçá sentidas por meia dúzia de pessoas.
Provavelmente, o corpo é feito para ser esquecido (os cemitérios e as fotografias surgem para contrariar), o nome (e os feitos e os feitios, os gestos) para ser memorizado (ascendências e descendências, genealogias, cemitérios novamente).

E quando há pseudo corpo e nada de mágico a recordar? Cadê o abraço e o beijo, que nem a foto, nem o livro, nem o cemitério dão?

A finitude das coisas é dura, mas é real.

E quando não fores mais capaz de ver as flores, ouvir a expressão dos bichos, sentir o carinho da mãe, ouvir o ralhete do pai, conversar com o irmão, sair com os amigos? Acharás que uma vida medíocre valeu a pena?

Dane-se para o "amor e uma cabana".
Dane-se esta "coisificação" da vida.

Luís Gonçalves Ferreira

Comentários

  1. "Acharás que uma vida medíocre valeu a pena? (...)

    Dane-se esta "coisificação" da vida."

    Abraços

    Daniel

    ResponderEliminar
  2. Texto espectacular!
    Poucas são as pessoas que têm "tomates" ou estômago, p'ra falar deste assunto, preferem fazer de conta que não existe, quando chega a altura lidam com isso.
    Enfim...o que se há-de fazer...

    Tu continua com o bom trabalho ;)

    ResponderEliminar
  3. Sim, estou no secundário. Tenho mesmo que aproveitar ao máximo/dar o meu melhor uma vez que é o último ano. Algo me diz que ainda vou ter saudades destes tempos.

    Ninguém morre antes da hora. Quando a minha vida terminar é porque ela já está inteira (quer eu a sinta assim ou não). A utilidade do viverr não está no espaço de tempo, está no uso. Há pessoas que vivem durante muitos e muitos anos e no entanto pouco viveram. Viver muito e bem depende da nossa vontade, não do número de anos que cá andamos. Acho que a "vida mediocre" vale sempre a pena e, quando chegar a nossa hora, mil homens, mil animais e mil outras criaturas morreram nesse mesmo instante em que morremos. Pelo que dizem , um dia, até o sol e o universo morreram.


    Beijinho Luis

    ResponderEliminar

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