Avançar para o conteúdo principal

Laranja amarga e doce

Minha laranja amarga e doce
Meu poema
Feito de gomos de saudade
Minha pena
Pesada e leve
Secreta e pura
Minha passagem para o breve breve
Instante da loucura.

Minha ousadia
Meu galope
Minha rédea
Meu potro doido
Minha chama
Minha réstia
De luz intensa
De voz aberta
Minha denúncia do que pensa
Do que sente a gente certa.

Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.

Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.

Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.

Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.
Cavalo à Solta - José Carlos Ary dos Santos

Entre amargo e doce, a alegria e a armagura, encontra-se o verdadeiro "ser" das pessoas especiais. Bebemos do exercício natural dos pólos das coisas. E eu gosto disso.

Como costumo dizer - a bipolaridade dá cor à vida. A minha, entre estes dias, anda extremamente colorida.

Sem mais,
Luís Gonçalves Ferreira

Comentários

  1. Este é "só" um dos "meus" poemas de sempre, como o são tantos outros deste senhor. E musicado, e cantado (preferencialmente pelo Carlos do Carmo) arrepia, de tão avassalador.
    Obrigada!

    (deixa lá, por cá também anda tudo coloridíssimo!! e que seríamos de nós sem estas cores?! ;) )

    ResponderEliminar
  2. Tens toda a razão quando dizes : "Entre amargo e doce, a alegria e a armagura, encontra-se o verdadeiro "ser" das pessoas especiais."

    Foi tão bom ler o poema em simultâneo com o som da música.

    Beijinho

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Vá comenta! Sem medo. Sem receio. Com pré-conceitos, sal e pimenta!

Mensagens populares deste blogue

Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...