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Rigor Mortis

O amor é morto.
A esperança é morta.
A fé é morta.
A caridade é morta.
A prudência é morta.
A gratidão é morta.
A fortaleza é morta.
A paixão é morta.
A temperança é morta.
A alma é morta.
A vida é morta.

Calou-se a vida,
Porque lhe sepultaram o corpo.
Apagou-se a chama,
Porque a terra lhe cortou o ar.
Estupidificou-se a existência,
Porque se lhe cortaram as vísceras.

Perpetuamente,
Ser sem jamais poder ser.
Definitivamente,
Um mero ensaio sem pausa, nem refrão.
Paulatinamente,
Corpo que se espelha em imagens com apagão.

Sem alma,
A vida é morta.

Toquem os sinos a defunto,
Quando a vida se transformar em nada,
Em simples corpo sem alma,
Sem Existência nem Vivência
Nem a Consciência
Que nem viver se sabe viver.

A vida é morta
Quando tudo apodrece,
De dentro para fora e
De fora para dentro, e,
Depois, enterra-se, morta.

Não há forças para Renascer.

A vida é morta quando
A existência e a felicidade
E a caracterização e o sorriso
E o humor e a tristeza
Estiverem amarrados a um cubículo qualquer.

A vida é morta.
Primeiro em pé.
A seguir no chão. Depois,
Em Rigor Mortis.

Toquem os sinos a defunto!
Há milhões de vidas mortas!

Luís Gonçalves Ferreira

Comentários

  1. olá
    um belo poema que diz tudo..:)
    a morte é o fim e talvez um novo começo.

    e eu estou de volta..ehehe..:) feliz e contente por voltar a vir fazer das minhas, acho que venho inspirada...:D(ou talvez não)

    Já fui dar uma vista de olhos ao teu arquivo do mes de agosto...
    tb tenho twitter, mas ainda estou a aprender a lidar com aquilo..:S
    não comento os posts porque tenho que ir para a praia...vida de quem está de férias...:p

    Beijoca**

    ResponderEliminar
  2. A vida é morta quando não existem pessoas que escrevem o que sentem, desabafando a seco os sentimentos, que pairam no ar envolvente.
    Felizmente que existes e existem outras tantas pessoas a expressar o que sentem...desse modo, a vida jamais morrerá...
    bj

    ResponderEliminar
  3. "A vida é morta quando /A existência e a felicidade /E a caracterização e o sorriso / E o humor e a tristeza / Estiverem amarrados a um cubículo qualquer." Isto diz tudo.
    A morte física acontece quando tem que ser, às vezes acredito que está destinada. O problema é quando somos nós a accionar a "bomba relógio" da morte e nos autodestruímos. Deve ser horrível, morrer de/na solidão sem que ninguém se lembre de nós. Deve ser horrível, morrer sem dignidade. Deve ser horrível, morrer dentro do nosso próprio corpo.

    Pensar nestas coisas deixa-me nostálgica.

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  4. Paladar (AKA Baunilha) - Foi mesmo isso que eu quis provocar. É necessário perceber que evitar a morte não é só detestar as rugas e solidão. É não ser enrugado na vida e não ser solitário na existência. Eu recuso-me a morrer por dentro primeiro que por fora. Beijinhoo@

    ResponderEliminar
  5. Concordo plenamente...a pior das mortes, se posso dizer assim, é mesmo a interior.
    Que nunca me aconteça tal coisa...antes morrer por fora, que por dentro.
    E a maneira directa e concisa (foi só p'ra usar uma palavra cara) como disseste estas verdades, foi o melhor do post :)

    Beijinho

    ResponderEliminar
  6. Quando não há alma não há vontade de viver, ou pelo menos não há autenticidade nas vivências,logo sem alma a vida é podre!
    Muitas alminhas andam por aí mais mortas do que vivas, pena é que não acordem para as mundivivências!
    A vida por vezes é madrasta, mas temos que a saber lever para poder ser mãe o resto do tempo!

    "Gostei tanto!"
    "Mesmo bom!"

    @

    ResponderEliminar
  7. Catarina - Oh Catarina Andreia, és mesmo fixe e inteligente. Os teus comentários são "muito bons". É por isso que "gosto tanto" de te rever comentando. Agora a sério: Já tinha saudades de te ter por aqui. Agora a brincar: vê lá, com tanta piada ainda te cai um dentinho. Agora a sério: gosto tanto que não te tenhas ficados pelo "muito bom", "amei" ou "gosto tanto". Agora a brincar: ainda te cai um dentinho. [cansei]. Beijinhooo, meu bem (agora a sério)

    ResponderEliminar
  8. Catarina - Eu sei que m'amas. E "adoro" quando o manifestas publicamente. Apetece-me, simplesmente, dizer-te que achei "muio bom mesmo". LOL. (a sério: ainda te cai um dentinho)

    ResponderEliminar
  9. toda uma perca de estatuto por sua culpa! amuei!

    mas gosto muito, continua assim!

    ResponderEliminar

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Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

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Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...