Avançar para o conteúdo principal

Dor estranha

Esta coisa estranha é difícil de suportar. É como uma rocha que cai num mar de nada, que traz ondas e precipício, mas que não tem aparente força motriz. Estranho é quando queremos animação e nada nos corre bem. Estranho é quando queremos sorrir e temos que o fazer falsamente. Estranho tem de seu nome tristeza, mas custa menos quando lhe mudo o nome. Ando às voltas com a inspiração e nada me acontece. Queria ter forças para agarrar as oportunidades mas preencho-me de um medo que parece satisfazer. Desespero e angústia, é isto que sinto. É um desesperar sem grito nem berro, uma angústia com sorriso, um triste indefinido. Ainda ao bocado rejeitei uma ida à casa d'Ele e estou a penar espiritualmente por isso. São baboseiras que escrevo e um projecto que está a começar. Coisa sem nexo, por certo. Tão agreste como o amor sem sexo ou um desleixo cuidado. Cansado estou, não corporalmente mas espiritualmente. É dor difícil de sarar.

Luís Gonçalves Ferreira

Comentários

  1. Eu, que não percebo puto de Psicologia, sinto-me atraída pelos processos cognitivos que vão dentro da(s) gente(s). E sei, por experiência própria, que, pese embora não se explique, essa dor estranha é como que uma força avassaladora que nos puxa para baixo, corpo e mente num só. Até os cantos da boca descaem, inadvertidamente. O segredo, estou certa, é esse: racionalizar e, quando for possível, reagir.
    Como diz o avô A., a seguir a uma descida vem sempre uma subida. E, digam lá os senhores entendidos em estados d'alma o que disserem, o avô A. tem sempre razão.
    Força!!

    Beijoooo.

    ResponderEliminar
  2. «Estranho é quando queremos sorrir e temos que o fazer falsamente».

    dor não mata mas mói e devora. *

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Vá comenta! Sem medo. Sem receio. Com pré-conceitos, sal e pimenta!

Mensagens populares deste blogue

Repondo a verdade

Depois de inúmeras tentativas (que agradeço), passo a devolver o dente ao leão, a identificar aquilo que é verdade ou mentira: 1. Adoro manteiga de amendoim Verdade. Quem convive comigo (ou quem me ouve falar) sabe desta paixão. Em pequeno ia para a casa da minha tia e comia pacotes dela. Hoje, depois do sofrimento para emagrecer, contenho-me no consumo. Mas a paixão existe, ai se existe... 2. Compro todas as edições da “Super Interessante” Verdade. Compro-as todas (pelo menos de há dois anos para cá) sem falhar um número. Fascina-me a forma despreocupada, límpida e inteligente que pautam os artigos da revista. 3. Já apareci no programa da Fátima Lopes vestido de anjinho Verdade. A minha mãe foi ao programa SIC 10 Horas demonstrar ao país o seu ofício (vestir anjinhos) e eu, filho devoto e cumpridor, pousei como Jesus Cristo (com cabeleira e tudo). Vergonha. Foi o que me restou do acontecimento. :) 4. Leio a Bíblia constantemente e o meu Evangelho favorito é o de Mateus ...

Aceitação do Prémio Lusitania História – História de Portugal Academia Portuguesa da História

Senhora Presidente da Academia Portuguesa da História, Professora Doutora Manuela Mendonça,  Senhores Membros do Conselho Académico, Senhoras e Senhores Académicos,  Senhor Dr. António Carlos Carvalho, representante da Lusitania Seguros, S.A., Ilustres Doadores,  Senhoras e Senhores,  Vestidos de Caridade, Vestidos de Fé, Vestidos de Serviço, Vestidos de Pátria.  São vários os nomes que podem ter os vestidos que, ao longo da História, foram oferecidos de ricos para os pobres, dos homens e mulheres para os deuses, dos senhores para os seus criados e criadas, de um país ou reino para o seu povo, do ser que não se é para o que se quer ser. Em todos eles há pedido, necessidade, dádiva, hierarquia e crepúsculo. A minha avó Júlia, costureira de ofício e filha de um armador de caixões, fez durante décadas roupas de “anjinho” que alugava nas festas e romarias do Minho. Miguel Torga, num de “Os Contos da Montanha”, referiu que nem o Coelho nem outro qualquer da aldeia o ...

Carta IV

Avó, como estás? Noutro dia, como sempre, fui ver-te ao local onde está a tua fotografia e umas frases iguais a tantas outras. Eram vermelhas, as tuas flores. Estava tudo bonito e arrumado. A tua nova casa, como sempre, estava tão fria. O dia está sempre frio quando te vou visitar lá, já reparaste? Espero que no céu seja tudo mais ameno e menos chuvoso. Tu merecias viver mais tempo, porque eras calma, serena e um porto seguro. Queria voltar a ser menino e ter-te novamente e dar-te tudo o que merecias de mim. Era muito pequeno para perceber como merecias mais carinho... Tenho saudades tuas, avó. Do teu colo. Do teu carinho. Da tua protecção e de quando ias comigo passear, à terça-feira. Fomos dois companheiros muito fortes, não fomos? Deixaste-me de responder... Não te oiço. Mas sinto-te. Sinto muito a tua falta, onde quer que estejas.  Tenho muitas saudades tuas. Muitas mesmo.  Até logo, nos sonhos, avó. É só lá que me consigo encontrar contigo e abraçar-te docemente. Luís...