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Loucura

Eu escrevia horas a fio. Como um louco. Coisas sem sentido. Coisas. Imensas coisas. A noite. O céu. A lua. O teu sorriso. Os meus pés. A caneca. Tudo. Tudo serve para descarregar energia. Energia, bateria, força motriz. A escrita é a alma do homem. A escrita é a mecânica do homem em letras, em arte, nem tintas nem máscaras. 
Sinto-me livre. Como se o ar me entrasse nos pulmões e me fosse projectado nos dedos. Flui. Frui. Sem barco nem caravela. Vou. Como um avião de papel. Uma andorinha livre que somente vive presa às asas das marés que o ar tem.
Vou voar pelos sonhos. É na escrita e nos sonhos que sou feliz. Como um cleptomaníaco que só se sente bem a roubar... Eu sinto-me bem a projectar letras. São sentimentos, estúpido. Tu és sentimentos.

Luís Gonçalves Ferreira

Comentários

  1. Ola querido

    Meu deus , deixas as pessoas estupefactas com estes maravilhosos textos , este e o anterior são tão bonitos e tão poeticos que uma pessoa mesmo que não queira acaba por ser contagiada .É tão bom quando nos sentimos assim felizes e isso faz com que as palavras fruam naturalmente e sem muito esforço , quem me dera ter isso agora porque já sinto uma enorme vontade de poder dar asas á imaginação , exprimir os meus próprios e verdadeiros sentimentos . Com as palavras podemos fazer tudo e mais alguma coisa é bom ter esta arte dentro de nós , por vezes já nascemos com ela e por vezes somos nós que a construimos . Adorei as tuas palavras transmitem uma uma paz e uma serenidade que nos fazem sonhar e viver .

    Beijinhos e Parabéns *

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  2. Que nunca percas a tua loucura, acredita: é ela que te guia!
    Um beijo.

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  3. Quanta inspiração! Luís, este é um dos textos mais intensos que já li aqui. Um rompante de sentimentos, todos misturados, um confusão mais que perfeita.

    "Sinto-me livre. Como se o ar me entrasse nos pulmões e me fosse projectado nos dedos. Flui."

    Isso é perfeito!

    Parabéns!

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  4. "Porque os outros se mascaram mas tu não
    Porque os outros usam a virtude
    Para comprar o que não tem perdão.
    Porque os outros têm medo mas tu não.
    Porque os outros são os túmulos caiados
    Onde germina calada a podridão.
    Porque os outros se calam mas tu não.

    Porque os outros se compram e se vendem
    E os seus gestos dão sempre dividendo.
    Porque os outros são hábeis mas tu não.

    Porque os outros vão à sombra dos abrigos
    E tu vais de mãos dadas com os perigos.
    Porque os outros calculam mas tu não"

    Sophia de Mello Breyner Anderson

    Um poema abonatório ao teu blog, porque afinal de contas, todos nós temos máscaras!
    Um beijo!

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  5. É o que faz falta a muita gente: escrever.
    Beijinho Luís.

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  6. Uau! Ah, consigo me identificar em muito com o seu texto. Tenho também essa desmedida necessidade de gritar com as palavras e acalmá-las. Vejo-me louca, desprovida de qualquer racionalidade quando quero escrever sobre o que penso, sinto... aceito, critico! É algo que inexplicavelmente me acalma. Eu não sei dizer de mim, se não for pela escrita. Na minha mão adormece e acordam as palavras, cada um com suas intenções. Eseteja eu alegre ou triste a palavra me compreende e através disso, compreendo-me.

    Esse texto é simplesmente maravilhoso. Ah, eu já disse e vou repetir: Você manda muito bem na escrita. E isso, de forma verdadeira.

    Um beijo mais que enormeeee! rs

    P.s: Não posso deixar de dizer dessa foto que colocou. É perfeita! Eu gosto muito de máscaras venezianas. Há todo um encantamento e mistério, e ainda a imagem aliada aos versos de Álvaros de Campos! Não há como não ficar lindo!

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  7. Como é bom ver-te (ler-te!) avassaladoramente viciado na escrita... Muito bom. :)

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  8. Não sei se a escrita é a alma do homem, mas começo a pensar seriamente nisso, ou nessa hipótese... tal como a música :)

    Gostei. Muito.

    Abraço

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...