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Ainda sobre espartilhos

Falei-vos, já, dos moldes: Os espartilhos, os corpetes e crinolinas. Cansa-me seriamente esta meia-existência, tacanha e pobre, amarrada a eles. Não aos meus, pelo menos directamente, mas aos espartilhos dos outros. Aos moldes (pobres, tacanhos, medianos) dos que não conseguem observar futuro para além do que, obviamente, é alvo de certa futurologia do senso-comum. No meio deste barulho de ferros cerebrais perde-se o sentido da pessoa. Ninguém pergunta, antes de julgar, gritar e berrar, o porquê do acontecimento ter acontecido (ou estar a acontecer). A pessoa, nisto tudo, perde-se. No seu magno sentido existencial. Não importa o sentimento próprio, a razão justificativa pessoal ou o mero impulso. Releva, nesta praça pública de tempos sem bruxas, castigar com o jugo dos outros. Outros, caros leitores, que são comparações. E isso, meus amigos, é aquilo com o qual mais me custa viver. Existir assim seria fácil, mas eu prometi-me à vida deste o primeiro dia em que me vi sofrer pelos outros.

Luís Gonçalves Ferreira

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...