Não me lembro de ter os braços, as pernas e todo o corpo mais pequeno que alguns bons palmos. Não me recordo de gatinhar. Nem tão-pouco de andar num voador e sonhar livremente como quem voa, de facto, sem amarras. Não me recordo de nada disso, mas ouvi dizer. Escutei que é assim que se é em bebé: livre. Mais livre e sereno que isto. Que um mundo cruel, de dentes afiados, pronto a triturar sonhos e esperanças e liberdades alheias. São jugos e profundas e pesadas pedras que nos plantam nos pés. Demora a crescer, porque são como sementes. Iguais às que nos plantaram na colheita original, bíblica, lá longe. A malícia do homem é nossa, de dentro, da raiz originária. Regou-se depois, a canecos largos, de uma ignorância profunda do exemplo vivo de Deus. Blasfémia. Na Igreja blasfema-se, dia-a-dia, todos os dias, quando se diz que somos imagem d'Ele. Ninguém é perfeito com uma imperfeição no painel criativo. São pés de prata, mas corpos de cobre podre e feio. São pés de barro e corpo de carne podre e feia. São tempos. São gigantes de pele. São pequenez de alma e cacos por dentro. Esta reflexão de nada vale: é fruto de um ser igualmente imperfeito. Provavelmente, a perfeição não existe. Nem Deus o é. Nem a criação o foi. O canivete divino falhou. Falhou ao criar esta criatura, riscada, que se perdeu e persegue o que lhe faz mal.
Luís Gonçalves Ferreira
Quando tudo se desmorona, pensamos ser o fim, mas nao é. É apenas uma etapa. Dêmos à etapa o que ela tem de etapa, e nao de fim. Pode ser o fim de algo ou alguém mas é sempre o enriquecimento para outro algo ou alguém, com novas ferramentas e aprendizagem. Mudar no que depende de nos. Aceitar o que nao depende de nos. E continuar. Trinfante no caminho... Como tu és e mereces.
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