Avançar para o conteúdo principal

21 anos


Os homens arranjaram forma de coordenar e orientar a vida dos seus pares medindo-a, chamado-lhe nomes e graduando-a em partes. Depois puseram-lhe legendas às partes e aos nomes e às medidas. Todos temos um nome em função da idade. E eu cresci com legendas, também. Não é só o tempo que tem epítetos. As pessoas também os têm.  Não há outra forma de nos entendermos senão pelos nomes que nos chamamos. Sei que existe amor onde eu chamo amor. Sei que existem pessoas onde tenho pessoas. Sei que existem amigos onde, um dia, como hoje, chamei de amigos. Construí e fui construído por uma família que, hoje, tem nomes. Os sentimentos, como as cores, têm nomes. E é um profundo sentimento de felicidade que me invade hoje. Felicidade e agradecimento.

Decidi, faz tempo, dedicar este dia às minhas memórias. Recordar quem merece e fez parte de mim não só no ano presente como em todos os outros que desfilaram em mim. São momentos e sorrisos e quadros que coloram o salão que sou hoje. 

E os textos que escrevo neste dia, porque são memória em si, são de balanços também. 2010 foi um ano medianamente positivo se considerado em termos gerais. Perdi o meu avô paterno, fisicamente, sem contudo o perder aqui, no coração, onde as pessoas são importantes. Perdi, também, num outro nível, algumas pessoas que achei serem relevantes. É a selecção natural, provavelmente. Recuperei deles o que melhor consegui e, por sobrevivência, segui em frente, depois de devidamente chorado o que havia a lamentar. Ganhei o grande amor da minha vida para o perder, a seguir, meses depois, com algumas culpas partilhas e outras tantas isoladas. Viro os 20 para os 21 com o mesmo amor no peito, agora minimizado e já com os olhos abertos na direcção da luz. Aproveitei as pessoas que mereciam e fui igual a mim mesmo, com os valores que me constroem por dentro e me valoram os passos e os sentidos e tudo o que com nomes os homens legendam. Visitei Barcelona em boa companhia e vim mais rico. Conheci Tenerife, com a família, e enriqueci-me mais um pouco. As pessoas têm o poder de nos darem mundos ao nosso mundo. Vi a Lady Gaga, como cereja em cima do bolo, que significa o grande caminho de libertação que, controversamente, tornou este atalho no caminho da vida num plano mais obscuro e negro, talvez. 

Eu, o de hoje, bebo dos nomes todos que conheci e das coisas novas que experimentei. Sou, paradoxalmente, o positivo que elevo e o negativo que me magoa. Não consigo caminhar sem me orgulhar de tudo o que fiz. Em tudo, como nos nomes, que se fazem de letras, existem substâncias mais belas, outras mais coloridas e umas amargas de agridoces que são. Não consigo ser insensato e deixar de desejar um ano muito melhor que este, o dos 20 anos, que agora largo, para trás. Não o largo, bem vistas as coisas. Transporto-o para o plano de uma nova página que, em bom termo, não é mais do que uma soma das páginas atrás. É a lógica dos números. Somam-se os números, como os anos, porque não largamos tudo aquilo que somámos. A soma é a lógica da vida: a equação perfeita de uma continuidade inevitável.

Parabéns a mim e Obrigado aos que me populam o coração e o amor que tenho para dar. 
Obrigado às pessoas que visitam este blogue que sempre são parte da soma que conta a minha felicidade.

Beijos e Abraços,
Luís Gonçalves Ferreira

Comentários

  1. Parabéééns pequeno monstrinho! :D espero estar em tua companhia nos restantes anos de vida :D abração

    ResponderEliminar
  2. Luisinho, gostei muito da tua reflexão. Muito profunda, e verdadeira. Espero fazer parte das coisas boas deste teu ano "20". É uma grande honra fazer parte da tua vida:D
    Um grande beijinho e espero que os teus desejos de um ano "21" muito melhor se concretizem;)
    **

    ResponderEliminar
  3. Não sei como, mas vim encontrar o teu blog, li este texto e disse para mim: Wow, mas que escritor!
    Fiquei realmente fascinada com as tuas palavras, a forma como as conjugas e o sentido que elas fazem em cada contexto. De tantos blog's que já visitei por mero acaso nenhum, mas nenhum mesmo me pareceu tão verdadeiro e sentido como o teu!
    Tens de facto, imenso jeito, parabéns! Beijinhos*
    Cristiana Rente.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Vá comenta! Sem medo. Sem receio. Com pré-conceitos, sal e pimenta!

Mensagens populares deste blogue

Repondo a verdade

Depois de inúmeras tentativas (que agradeço), passo a devolver o dente ao leão, a identificar aquilo que é verdade ou mentira: 1. Adoro manteiga de amendoim Verdade. Quem convive comigo (ou quem me ouve falar) sabe desta paixão. Em pequeno ia para a casa da minha tia e comia pacotes dela. Hoje, depois do sofrimento para emagrecer, contenho-me no consumo. Mas a paixão existe, ai se existe... 2. Compro todas as edições da “Super Interessante” Verdade. Compro-as todas (pelo menos de há dois anos para cá) sem falhar um número. Fascina-me a forma despreocupada, límpida e inteligente que pautam os artigos da revista. 3. Já apareci no programa da Fátima Lopes vestido de anjinho Verdade. A minha mãe foi ao programa SIC 10 Horas demonstrar ao país o seu ofício (vestir anjinhos) e eu, filho devoto e cumpridor, pousei como Jesus Cristo (com cabeleira e tudo). Vergonha. Foi o que me restou do acontecimento. :) 4. Leio a Bíblia constantemente e o meu Evangelho favorito é o de Mateus ...

Aceitação do Prémio Lusitania História – História de Portugal Academia Portuguesa da História

Senhora Presidente da Academia Portuguesa da História, Professora Doutora Manuela Mendonça,  Senhores Membros do Conselho Académico, Senhoras e Senhores Académicos,  Senhor Dr. António Carlos Carvalho, representante da Lusitania Seguros, S.A., Ilustres Doadores,  Senhoras e Senhores,  Vestidos de Caridade, Vestidos de Fé, Vestidos de Serviço, Vestidos de Pátria.  São vários os nomes que podem ter os vestidos que, ao longo da História, foram oferecidos de ricos para os pobres, dos homens e mulheres para os deuses, dos senhores para os seus criados e criadas, de um país ou reino para o seu povo, do ser que não se é para o que se quer ser. Em todos eles há pedido, necessidade, dádiva, hierarquia e crepúsculo. A minha avó Júlia, costureira de ofício e filha de um armador de caixões, fez durante décadas roupas de “anjinho” que alugava nas festas e romarias do Minho. Miguel Torga, num de “Os Contos da Montanha”, referiu que nem o Coelho nem outro qualquer da aldeia o ...

Carta IV

Avó, como estás? Noutro dia, como sempre, fui ver-te ao local onde está a tua fotografia e umas frases iguais a tantas outras. Eram vermelhas, as tuas flores. Estava tudo bonito e arrumado. A tua nova casa, como sempre, estava tão fria. O dia está sempre frio quando te vou visitar lá, já reparaste? Espero que no céu seja tudo mais ameno e menos chuvoso. Tu merecias viver mais tempo, porque eras calma, serena e um porto seguro. Queria voltar a ser menino e ter-te novamente e dar-te tudo o que merecias de mim. Era muito pequeno para perceber como merecias mais carinho... Tenho saudades tuas, avó. Do teu colo. Do teu carinho. Da tua protecção e de quando ias comigo passear, à terça-feira. Fomos dois companheiros muito fortes, não fomos? Deixaste-me de responder... Não te oiço. Mas sinto-te. Sinto muito a tua falta, onde quer que estejas.  Tenho muitas saudades tuas. Muitas mesmo.  Até logo, nos sonhos, avó. É só lá que me consigo encontrar contigo e abraçar-te docemente. Luís...