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Glória e arte


A manifestação artística eleva as pessoas a um patamar de excelência em si mesmas. Criar o que quer que seja é um profundo acto de amor e uma necessidade intelectual: uma dádiva aos outros e a si mesmo. É como falar ao espelho, mas ser ouvido, escutado, interpretado vezes sem conta. A obra é a clara parte do corpo fora dele mesmo. É uma alma prostituída pelas visões dos outros acerca de um corpo e uma alma de quem ousou dar de si. Toda a coisa criada em profundo acto de transfusão e transfiguração emociona-me profundamente. E arte não são só coisas. Arte não são coisas. Arte não é nada, mas um tudo diverso para poder chegar a todos. E a maior peça criativa, do canivete suiço de Deus, são os Homens. A inocência pura e cândida da infância revela a auto-criação constante, sem juízos nem pré-juízos. É despudorada e básica. É criativa sem fim. Como o corpo que cresce para a roupa jamais servir.  São as criaturas que me emocionam. E é isso que respeito profundamente como quem aplaude um bailado, chora um Picasso ou sorri perante o melhor filme dos últimos tempos. Criar é estar perto da glória e da memória eterna. É o mais justo acto de se ser pessoa. É a mais justa instância de tornar eternas as rugas da vida.

"I'm on The Edge of Glory, and I'm hanging on a moment of truth,
Out on The Edge of Glory, and I'm hanging on a moment with you"


Luís Gonçalves Ferreira

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...