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Um texto de Sete de Maio de 2011

A blusa apertou-lhe os seios, num suspiro intemporal. Uma lágrima do corpo percorreu-lhe o peito sem saber onde iria parar. Louca, rolante, como a vagabunda alma que estava ali, suada, louca de um prazer passado, percorrido por outro corpo. A deslocação de si para o corpo de alguém. A sinestesia dos corpos. O belo erotismo dos banquetes de Platão. A erótica pornografia moderna, que se condensa nas bocas e nas mãos dos afáveis corpos que se auto-mutilam. Aquela mulher, demente de interessante, perdeu-se no seu próprio corpo. No calor de si. Não sabe onde está ou como foi ali parar. Não sabe se dormiu com um homem ou uma mulher. Não sabe se dormiu, tão-pouco. Não sabe. E vai ser feliz enquanto assim continuar.
Rolou o espírito caminho acima, nas escadas da banal entrada do seu apartamento. Resvalou a mala no canto mais próximo e deixou os sapatos pelo caminho. Parecia um quadro de um filme qualquer, mas não. É a realidade. A realidade igual à ficcional existência de uma novela torta, sintonizada, que lhe preenche o display de cristal líquido da parede da sala.
(Hoje é assim: os televisores substituem a criatividade da pintura).
(...)

Luís Gonçalves Ferreira

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