Ela: Acreditas em Deus?
Eu: Não sei se acredito, mas tenho uma relação especial com Ele. Sabes, confundem Deus com a Igreja e se a tua pergunta está nessa confusão, não, não acredito em Deus. Se estás certa das diferenças, sim, acredito em Deus. No verdadeiro, no que me inspira os passos e me inovou os traços, os valores e as relações com as pessoas.
Ela: Sim, mas então Deus não é uma boa inspiração. És péssimo nas relações humanas, porque pensas que todos são capazes de amar o teu templo de valores. Eu vivi isso. Eu fugi de ti por isso. Essa tua busca incansável pela verdade dos outros não atrai ninguém, e consegue repulsar as pessoas de ti.
Eu: Sim, é verdade... Sou bom de mais ou mau de mais. Depende da forma como acreditas na tua mentira, na tua ficção de vida. Recuso-me a viver ficções, ou tento não as ter como certas. Mesmo sabendo que elas existem.
Ela: Mas...
Ele: Sim, tens razão. Sou péssimo nas relações humanas, mas sempre fiz o que achei estar correcto. Abandonei a Marta porque simplesmente olhei-te nos olhos de uma forma mais carnal. Acho que nunca te tinha dito.
Ela: Prefiro não comentar isso. Prefiro simplesmente não comentar. Apesar de estar esquizofrenicamente a comentar.
Ele: Corri atrás de ti. E aprendi a amar. Como aprendi a deixar de amar. Amar também se aprende. Eu sou a prova disso: que os desastres da vida no campo de amor não te tornam mais forte, mas sim mais confuso. Acho que não sei lidar com as pessoas. E todo o meu amor é uma farsa. E foi destruído por culpa de uma farsa.
Ela: Luís, acho que não me devias dizer isso. Eu não me encaro como uma farsa na tua vida...
Ele: Não és tu a farsa. É o nosso amor a farsa. A forma como lidamos com ele. Como aprendemos erradamente com ele. Como acreditamos nele. Acredita que não sei se te amei como tu pensas. Nem tão-pouco sei se é correcto aquilo que vês em mim. Existem sempre duas histórias na mesma história. Ou as pessoas se encontram e aprendem a uni-las ou as peças não se juntam e elas continuam separadas. E tu existe para além do amor, da nossa farsa. É por isso que continuas em mim. Tens mais valor que isso.
Ela: Temos duas histórias, então. Confesso que não percebo a tua... Como tu não deves perceber a minha.
Eu: Não conheço a tua, diz antes assim.
Ela: Nem nunca quiseste que a conhecesse, certamente. Está tudo ao nosso alcance.
Eu: Não, não está. Se tivesse ter-te-ia comigo, como amor. Teria ido para a praia contigo. Teria tido sexo contigo em todos os locais. Ter-te-ia apresentado a minha família. Teria plantado uma árvore contigo. Teria sido eu: a pessoa que não conheces.
Acordei da irrealidade metafísica de um sonho recalcado de recordações velhas. Esta conversa nunca acontecera, na verdade. O amor nunca aconteceu. De resto é tudo verdade. Resta saber se a ilusão de ter sonhado e estar acordado esta dentro do sonho ou fora dele. Se estiver dentro, na matrioska maior, continua a ser um sonho. Irreal, transcendente, mas consciente. Jamais bêbado de solo interno.
1 de Maio de 2011
Luís Gonçalves Ferreira
Que dialogo interessante e cheios de descobertas e sentimentos , gostei .
ResponderEliminarBeijinho *