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Uma visão

É complexo viver a vida como um perdedor e saber, todos os dias, que é um sorriso, mente, pernas, braços e coração de leão que todos querem consumir. Querer somente para consumir. É carne. É vão. E vazio. Mas é. Infelizmente. E a vida não passa de um circo. De feras. E tens que te transfigurar, animalizar, sobrevalorizar e modificar se queres agradar aos olhos dos outros. Criar imagens e analisar mentiras - as tuas próprias mentiras. Só para crer nelas e custar menos e parecer bem a olhos que não sabem nada de ti, nem dos teus contextos nem tão-pouco leram um dia os teus textos. Mentir para doer menos. Bem menos. Até haver um dia em que o magnífico seja pouco e alguém queira consumir mais. E mais. E todos esperam que correspondas ao máximo. Ninguém quer mínimo e o menos é pouco sexy. Avanças, mas renasces. É a tua obrigação. Como uma estrela  ou és ou deixas de o ser pelo esquecimento. E cantaram Glórias os trovadores, poetas e seres magnânimos. Tudo para que ninguém se desiluda e seja esquecido. Provavelmente o mercantilismo emocional é tão ancestral como os genes que nos preenchem o egoísmo errante com o qual encaramos as pessoas. Não passam todas de riscos, apenas servindo para o conforto que queremos experimentar, as palavras que queremos ouvir e o amor que projectamos, mas nunca fizemos questão de deixar sentir.

Luís Gonçalves Ferreira

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