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Uma visão

É complexo viver a vida como um perdedor e saber, todos os dias, que é um sorriso, mente, pernas, braços e coração de leão que todos querem consumir. Querer somente para consumir. É carne. É vão. E vazio. Mas é. Infelizmente. E a vida não passa de um circo. De feras. E tens que te transfigurar, animalizar, sobrevalorizar e modificar se queres agradar aos olhos dos outros. Criar imagens e analisar mentiras - as tuas próprias mentiras. Só para crer nelas e custar menos e parecer bem a olhos que não sabem nada de ti, nem dos teus contextos nem tão-pouco leram um dia os teus textos. Mentir para doer menos. Bem menos. Até haver um dia em que o magnífico seja pouco e alguém queira consumir mais. E mais. E todos esperam que correspondas ao máximo. Ninguém quer mínimo e o menos é pouco sexy. Avanças, mas renasces. É a tua obrigação. Como uma estrela  ou és ou deixas de o ser pelo esquecimento. E cantaram Glórias os trovadores, poetas e seres magnânimos. Tudo para que ninguém se desiluda e seja esquecido. Provavelmente o mercantilismo emocional é tão ancestral como os genes que nos preenchem o egoísmo errante com o qual encaramos as pessoas. Não passam todas de riscos, apenas servindo para o conforto que queremos experimentar, as palavras que queremos ouvir e o amor que projectamos, mas nunca fizemos questão de deixar sentir.

Luís Gonçalves Ferreira

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Pensar mais do que sentir

Tenho saudades de ser pequeno, livre e inocente. Sinto falta da irresponsabilidade de ser cândido e não saber nada sobre nada. Estou nostálgico em relação ao Luís que já existiu, foi, mas que não voltará a ver-se como se viu. Este corpo e alma que agora me compõem são reflexos profundos da minha história. O jeito de sorrir, abraçar e beijar reflectem os sorrisos, abraços e beijos que fui recebendo. Sinto falta do Luís que só sabia dizer mamã e Deus da má'jude . Sinto a ausência das pessoas que partiram e que naquele tempo estavam presentes. Sinto saudade de só gostar da mãe e de mais ninguém. Sinto saudades de sentir mais do que pensar. É um anseio que bate, mas nada resolve, porque apenas cansa a alma. A ausência corrói a alma e o espírito. É nestas alturas que penso que a Saudade e o fado são as maiores dores de alma que consigo ter. Provavelmente, sou mesmo um epicurista. Luís Gonçalves Ferreira

Sem parágrafos

Por momentos  - loucos, é certo - esqueço-me de mim e sou capaz de amar. Amar sem parar, com direito às anulações, sofrimentos e despersonalizações que os amores parecem ter. Por momentos - curtos e fugazes - eu esqueço-me de mim e sou, inteiramente, completamente, antagonicamente teu. Entrego-me, como quem não espera um amor livre. Dou-me como quem sente que as minhas vísceras são as tuas entranhas. Abraço-te como quem encosta os corações, que outrora estavam frios, gelados e nus. Aproveita, meu amor, eu sou teu. Aproveita que estou louco e leva-me contigo, para sempre. Rapta-me o corpo, a mente e o descanso eterno deste insano coração. Corres, contudo, o sério risco de não me levares por inteiro. Prefiro trair o coração que a mente, amar a imagem do que viver intensamente a vida de outrem. Amor, querido e visceral amor, leva-me e mostra-me que existes. Não sei quantas horas tenho para cumprir esta promessa que fiz a mim mesmo. A memória irá voltar e corres risco de já não me acha...