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Aos vinte e dois. 15/12.

Não são os 22, D., é a soma do "mais um", o recordar tudo o que isso significa e o assimilar que já passou mais um ano.

E é isto o resumo dos 22: recordação, assimilação e soma. E talvez seja só para isso que o tempo releve, pois o fundamental é transversal à ciência, à lógica ou ao peso da matemática: está cá, como aí, ó tu que me lês.

Tenho saudades tuas, avó. É isso que me apetecia dizer-te agora, se pudesse. Este dia é teu também, na maioria, desde que partiste, faz tempo (perdi-lhe o tacto, o contacto, mas sei que tenho saudades). E é da mãe. (Parabéns mãe). Do sorriso dos teus olhos, que vejo ao espelho, pelos meus, sei onde estás, para onde queres que vá e onde estão as fronteiras eternas do teu carinho.

E um obrigado. Aos que continuam cá.
E um tenho pena, mas sei que fiz o correcto. Aos que permiti que partissem. 
E um adeus. A quem morreu, porque se suicidou e se fez pó, voluntariamente.
E um amo-te. A quem o quiser ouvir; A quem sentir ouvir; E a quem não ouve, mas sente, porque sabe que existe ou existiu. E o amor não desaparece, transforma-se, sem deixar de o ser, na essência. 

Vocês são uma soma; uma ponderação inteligente, prática, mas irracional. Não escolhi amar-vos, nem querer-vos, porque não imaginei sentir força, carinho, conforto ou vontade de estar na vossa companhia. Como não me permitiram querer do vosso sangue ou dos vossos valores. Sou vosso, por propriedade, pertença, direito divino. E sou meu, em pleno, mesmo sabendo que sou de todos, em simultâneo. E não há nada mais compensador do que isto: ter consciência que, sem outros, o "eu" era vazio e a existência não seria mais que umas silenciosas teclas rebatidas por meus pesados dedos. 

Luís Gonçalves Ferreira

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