As pessoas seguem as suas vidas num completo vazio. Preenchem-se de objectos curtos, não se comprometendo com grandes feitos nem grandes conquistas. As depressões emocionais actuais exigem obrigatoriamente uma descida das expectativas do "nós" em relação aos "outros", e ao que esperamos deles. É proibido pedir o que os nossos pais se prometeram mutuamente. É insensato pensarmos como nos filmes da Disney, ou como nos plantam os livros de auto-ajuda. Um vazio enorme por dentro e um cheio incrível de acessórios por fora, é isto que nos sepulta. O automóvel, o telemóvel, as licenciaturas, os mestrados, as pós-graduações e doutoramentos e cursinhos: ocupar o tempo para tornar maior a dependência de alheios. O futuro? Entre um call center ou um trabalho precário qualquer. Investimos milhões de euros no desenvolvimento intelectual do capital humano: está agora desvalorizado; como acções que caíram dramaticamente numa bolsa de valores qualquer. Não há mecânicos, nem carpinteiros, nem pessoas com formação para caixas de supermercado. Há licenciados em fugas para a frente: piloto automático de sobrevivência ligado. Já só podem sonhar com casas arrendadas. O desemprego dos ascendentes é a mais cruel das realidades: os jovens actuais existem muletados. Relações taxativas, exaustivas, exploradas num egoísmo incrível. Esquecemos de cultivar o amor-próprio; menosprezamos a génese dependente e carente do ser humano. Ele perdeu a sua forragem de valores, não sabe do seu verdadeiro ser. A televisão, os media, a globalização, o capitalismo... Estamos mergulhados no plano das aparências, da acumulação desmedida, na retenção exaustiva para a validação dos outros. Aceitamos ser números e quantidades, esquecemo-nos das qualidades. Deixamos de saber amar. De saber respeitar. De saber dar o respeito.
Que esta crise de valores seja um alerta berrante para a necessidade de recapitalizarmos as relações humanos com aquilo que é fundamental, desligada do mero "dar nas vistas", do tornar o ilícito em lícito pela imagem que a coisa tem. Maçãs podres: somos todos isso. Pena termos demorado tanto tempo a cair na cabeça de Newton.
Que esta crise de valores seja um alerta berrante para a necessidade de recapitalizarmos as relações humanos com aquilo que é fundamental, desligada do mero "dar nas vistas", do tornar o ilícito em lícito pela imagem que a coisa tem. Maçãs podres: somos todos isso. Pena termos demorado tanto tempo a cair na cabeça de Newton.
Seremos a última maçã do Éden?
Luís Gonçalves Ferreira
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