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Das perdas

Venho-vos falar de perdas: das que tentas soldar, em ferros, para que tudo fique igual. Tentas evitar e não consegues, por mais força que tenhas. Perdes infinitamente, na proporção do fim. Perdes o que tentas unir e perdes o que tentas não perder, por causa do jogo da perda. Acabas sempre por perder - não há jogo sem risco. E terminas sempre a ganhar - afinal não há jogo. (Não) Há perder sem ganhar. Não existe mais valia sem desvalorização. Dos finais - o pior de todos - é quando te sentes perdido de tanto teres perdido. Laços continuam desfeitos. As pontas desatadas. Os pedaços no chão. São os fins. Naturais da vida. Não são fins, na verdade. São começos. 
Ferido nos olhos, por entre a luz dos vidros no chão, o raio espalha-se. Que brilho! Vês um desfoque - lá longue. Dos dias que nunca deveriam ter nascido - das perdas. Do chão que não há. O dia primeiro contado no primeiro pedaço que deixas das mãos cair. 

bang 

Adeus. 

Luís Gonçalves Ferreira

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